O retorno do Barcelona à Catalunha, nesta terça-feira, trouxe mais do que fadiga física. Depois de 11 dias na Ásia, com vitórias convincentes sobre Vissel Kobe, FC Seoul e Daegu FC, o elenco desembarcou em El Prat com queixas contundentes. Foram quatro horas de ônibus durante a madrugada, logo após a última partida na Coreia do Sul, somadas a um voo de 13 horas até a Espanha. A programação, descrita por alguns atletas como digna de "time pequeno", deixou evidente a frágil coordenação logística na reta inicial da temporada 2025/26.

Do ponto de vista técnico, a sequência de deslocamentos extremos compromete um dos elementos-chave da pré-temporada: a recuperação. A fadiga acumulada, associada à diferença de fuso horário, afeta diretamente o desempenho nos treinamentos subsequentes, reduzindo intensidade e capacidade de assimilação das orientações táticas. A insatisfação ganha contornos ainda mais significativos diante do contexto recente: a diretoria precisou renegociar a turnê por atraso no pagamento da empresa promotora, o que já havia comprimido a agenda e elevado a margem de imprevistos.

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As consequências não se limitam à preparação física. Internamente, cresce a percepção de que a gestão esportiva e a administrativa caminham em ritmos diferentes. O episódio, somado ao atrito público com o goleiro Ter Stegen, projeta um cenário delicado para o técnico Hansi Flick, que terá de equilibrar ajustes táticos com a manutenção da confiança do grupo. Em um elenco acostumado a padrões de excelência, a repetição de falhas operacionais pode corroer a credibilidade do comando fora de campo.

A crítica, nesse caso, é mais do que justa. Um clube da dimensão do Barcelona não pode se permitir descuidos logísticos que minem a base física e mental de seu plantel, especialmente em um calendário cada vez mais extenuante. Organizar amistosos lucrativos é legítimo, mas ignorar as condições de deslocamento beira a miopia administrativa. Como se diz na Bahia, "quem quer festa, precisa preparar o salão" — e, no futebol de elite, isso significa cuidar do detalhe que o torcedor não vê, mas o atleta sente no corpo.