Em cada canto uma História: da antiga Avenida Anchieta ao conjunto Sérgio Carneiro

Aniversário de FeiraFeira 190 anos

Em cada canto uma História: da antiga Avenida Anchieta ao conjunto Sérgio Carneiro

Especial Feira de Santana 190 anos

Crédito: Divulgação
Railda Neves Souza

A cidade que nasce como passagem obrigatória para tropas, tropeiros e viajantes a caminho de cachoeira e outros cantos, vê surgir a indústria, o comércio pujante, as instituições de formação nos diversos níveis de ensino. Entre outras proezas que a torna tão atraente, F. de Santana passa a ser o lugar do sonho para uns e do desalento para outros que, enquanto esperavam por oportunidades de sobrevivência, levavam vida precária, como na maioria das grandes cidades.

Desse segmento que passava por dificuldades enquanto buscavam oportunidade, faço o objeto desse texto, para falar não de cada "canto" uma história, mas da história do surgimento de um dos "cantos" dessa cidade: O conjunto Sérgio Carneiro. 

Os invisíveis e a moradia inóspita em Feira de Santana

Com o crescimento espontâneo da cidade, crescia também o sonho de muitos em relação a F. de Santana, que passou a ser vista como lugar de oportunidades. Todavia, muitas vezes a busca por melhores condições de vida, além das frustações gerava a ocupação desordenada do solo urbano.

Nesse processo de ocupação, a Avenida Anchieta que se localizava na região onde hoje está situado o bairro Eucaliptos, se estendia até o atual Shopping Boulevard. Naquele lugar seria inaugurada a atual Avenida João Durval Carneiro. Porém, ali moravam pessoas inseridas em profunda situação de exclusão, maioria negra, sem renda fixa, com baixo nível de escolaridade e alguns vivendo em espaços compartilhados com outras famílias. O contexto de crescimento e modernização de Feira de Santana incide diretamente no cotidiano de homens e mulheres, que sentiam na pele o peso da exclusão através das condições inóspitas de moradia em que estavam inseridos.

A permanência dos moradores da Anchieta naquele local não era compatível com o progresso. Por isso, passaram a habitar noutra área da cidade, fazendo surgir uma nova periferia, ampliando, com isso, os espaços habitados. Esses sujeitos, antes totalmente invisíveis, estavam experimentando mudanças importantes em suas vidas a partir da relocação para outro espaço de conformação onde viveriam a alegria da casa própria e passariam a experimentar outras situações de vida e outros desafios.

A relocação para o Conjunto Sérgio Carneiro/Fraternidade: novo endereço

A ideia de promover o progresso em Feira de Santana a partir daquele espaço não podia ocorrer fora da preocupação com as 280 famílias que ali residiam. Assim, antes de concretizar a construção da nova avenida, era necessário retirar o pessoal, que estava naquela localidade. Conforme o ex-presidente da INTERURB, Antônio Sergio Carneiro, com o intuito da relocação, foi oferecido aos moradores casa e estrutura para sobreviver num outro espaço da cidade.

Depois da visita ao espaço destinado à relocação, sabia-se então que o terreno que fi cava nas proximidades do bairro Tomba; depois do Centro Industrial do Subaé; sediaria o novo endereço dos moradores da Anchieta. A escolha do nome do lugar foi uma sugestão de S. Carneiro que, considerando os níveis de violência da década de 1980, aproveitou a inspiração do tema da Campanha da Fraternidade daquele ano: "Fraternidade Sim, Violência Não", e propôs que o novo local fosse chamado de Conjunto Fraternidade. As ruas receberiam os nomes dos Salmos da Bíblia.

No local, foram construídos equipamentos comunitários, como lavanderias, creches e escola com a utilização da mão de obra da maioria dos moradores do lugar.

A entrega das chaves e os títulos de propriedade deu aos novos moradores uma nova experiência de vida a ser desenvolvida noutro "canto" dessa cidade, que por sua condição geográfi ca, diversidade... bem pode ser considerada uma "nova Constantinopla do Oriente".

As histórias das periferias, de outros "cantos" da cidade, de outros sujeitos importam. Parafraseando Chimamanda Adichie, as histórias, fora do perigo da história única, podem humanizar e reparar dignidades, despedaçadas.

 

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Quinta, 02 Mai 2024

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