Corrida não ensina disciplina nem dá poderes especiais
Prática é ferramenta, não oráculo de evolução pessoal
Em 2025, a corrida segue como modalidade que atrai adeptos no Brasil e no mundo, celebrada pela facilidade de acesso e benefícios cardiovasculares comprovados. Dados recentes indicam crescimento constante nas inscrições em provas de rua, com aumento de 8% em eventos no Nordeste apenas nos últimos dois anos. A corrida oferece uma sensação clara de progresso: acelerar ou ampliar distâncias é resultado palpável, diferente do que ocorre em muitas outras áreas da vida. Contudo, o discurso comum de que "a corrida me ensinou a ter disciplina" merece um olhar mais crítico e menos romântico.
Tecnicamente, a disciplina é uma qualidade interna, um traço comportamental que permite que o indivíduo mantenha hábitos, supere resistências e organize sua rotina. Correr, por sua vez, é uma atividade que pode até estimular esse traço, mas não o ensina por si só. A relação entre a prática do esporte e a disciplina é bidirecional, e não causalidade pura. Muitos corredores iniciantes, sobretudo aqueles que encaram o esporte como fuga do sedentarismo, passam por fases de desânimo justamente porque confundem o esforço físico com uma obrigação moral. Isso pode transformar o prazer do exercício num fardo desnecessário.
📱 FEIRA DE SANTANA NOTÍCIAS 24H: Faça parte do canal do Folha do Estado no WhatsApp
Aqui na Bahia, terra de peleja e resistência, é natural que o povo valorize o esforço e a constância, mas sem deixar que o xadrez da rotina esmague a alegria da caminhada ou do trote na praça. Historicamente, os atletas locais que mais se destacaram não foram necessariamente os mais disciplinados em planilhas, mas aqueles que encontraram no esporte uma válvula de escape da dureza do cotidiano, uma forma de enfrentar o "corpo duro" da vida com alegria e persistência. Afinal, disciplina é importante, mas o que move o corredor baiano é o balanço do passo e o sorriso no rosto, no suor do pelourinho ou na calmaria do Dique.
Minha avaliação, ao longo de décadas de estrada e microfone, é que a corrida merece ser desmistificada: não é fonte mágica de virtudes, mas sim uma ferramenta potente para quem já tem a vontade de vencer suas batalhas internas. O excesso de autoexigência pode virar um freio, ao invés de impulso. Em 2025, com a popularização das tecnologias e a pressão por resultados imediatos, o desafio maior será resgatar a leveza da corrida — e da vida —, sem deixar o "discurso da disciplina" virar um mantra que, na verdade, só disciplina o próprio sonho. Quem sabe essa seja a verdadeira corrida que vale a pena vencer.
📱 Acesse o nosso site RadioGeral e TVGeral
📲 Nos acompanhe também nas redes sociais:
Comentários:
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.