Corrida por ingressos expõe dilemas políticos e econômicos da Copa
Venda inicia em meio a restrições migratórias e preços exorbitantes preocupam torcedores
O pontapé inicial para a Copa do Mundo de 2026 começou fora de campo. A Fifa abre no próximo dia 10 a primeira janela de inscrições para o sorteio de ingressos, em meio a uma expectativa de 6,5 milhões de torcedores nos estádios de Estados Unidos, México e Canadá. O entusiasmo contrasta com obstáculos logísticos: ingressos variando entre US$ 60 e US$ 6.730 e a política migratória mais rígida já aplicada por Washington, sob a gestão de Donald Trump, que ameaça a entrada de torcedores de ao menos 12 países.
Do ponto de vista estratégico, a Fifa enfrenta seu maior teste desde a ampliação do Mundial para 48 seleções. Serão 104 partidas, 78 delas nos Estados Unidos, e a promessa de acessibilidade territorial convive com riscos de elitização. A necessidade de visto em todos os países-sede, somada a prazos de espera de até dez meses em consulados norte-americanos, cria barreiras que podem transformar o futebol, esporte de massa, em privilégio restrito a quem tem tempo, renda e documentação favorável.
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As consequências vão além do entretenimento. O risco de exclusão de parcelas significativas da torcida, sobretudo das nações do Sul Global, pode corroer a narrativa da Copa como festa global. O contraste entre a retórica de Gianni Infantino,"todos serão bem-vindos", e a realidade dos consulados norte-americanos tende a intensificar pressões políticas sobre a Fifa. Para o Brasil, que lidera a procura por vistos e já garantiu vaga no torneio, o planejamento de viagem em 2025 não é luxo, mas condição de sobrevivência logística.
Minha leitura é de que a Fifa, mais uma vez, apostou na grandiosidade sem calibrar os efeitos colaterais. A Copa de 2026 será histórica, mas pode se tornar o Mundial mais desigual em termos de acesso. A ironia é inevitável: em nome da inclusão esportiva, ampliou-se o torneio para 48 seleções, mas em paralelo ergueram-se muros burocráticos que afastam o torcedor comum. Se a política migratória não se flexibilizar, corre-se o risco de estádios cheios de turistas endinheirados e vazios de diversidade popular, essência do futebol mundial.
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