Felipe Cardoso transforma tragédia em motivação e alcança a elite nacional
Meia do Vitória sobreviveu ao incêndio no Ninho e disputa a Série A
Seis anos após escapar do incêndio que matou dez jovens no Ninho do Urubu, centro de treinamento do Flamengo, Felipe Cardoso reencontra o cenário que parecia inalcançável: a Série A do Campeonato Brasileiro. Aos 22 anos, o meia do Vitória entrou em campo contra o Sport, na Fonte Nova, e tornou-se o primeiro sobrevivente da tragédia de 2019 a disputar a elite. Desde então, já soma três partidas pelo clube, que o contratou em definitivo após passagem pelo Atlético de Alagoinhas, onde se destacou no Campeonato Baiano. A tatuagem no braço — asas, auréola e o número dez — não deixa esquecer o que o futebol lhe tirou, mas também o que ainda pode devolver.
O percurso até aqui exigiu mais do que talento. Felipe resistiu à estagnação de uma carreira que parecia presa a lembranças traumáticas, reconstruindo-se em clubes como Santa Cruz e Metropolitano-SC antes de reencontrar estabilidade na Bahia. Em campo, é um meia de condução rápida, que busca diagonais para o ataque e se apresenta como opção constante de passe. A recente chegada de Fábio Carille ao comando do Vitória abre espaço para um sistema mais equilibrado, em que a leitura de jogo do atleta pode ser potencializada. A presença em jogos da Série A, num elenco de camisa pesada, reforça não apenas o mérito técnico, mas a capacidade de adaptação que sustenta jogadores longevos.
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O impacto dessa trajetória vai além da esfera individual. No Vitória, Felipe simboliza a narrativa de reconstrução que o clube tenta imprimir desde o retorno à elite, oferecendo à torcida uma figura que carrega valores de resiliência e disciplina. No plano nacional, sua história reativa a memória de um episódio que expôs negligências estruturais no futebol brasileiro, lembrando que as vítimas do Ninho não desapareceram da vida pública. Em 2025, quando o calendário se congestiona e a pressão por resultados tende a desumanizar o atleta, histórias como a dele restituem a dimensão humana do jogo.
Felipe Cardoso não joga apenas por pontos ou contratos; joga por um pacto íntimo com quem não pôde seguir. Seu caso sugere que o futebol, apesar de suas mazelas e burocracias, ainda é capaz de acolher narrativas de reparação. Falta-lhe constância para se consolidar na Série A, e dependerá de desempenho para manter espaço num clube que busca reforços. Mas, como se diz na Bahia, "devagar se vai longe" — e, para quem já viu a vida se desfazer num instante, cada passo adiante é, por si, uma vitória.
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