João Pedro expõe distância entre Brasil e Europa

EsportesEspelho quebrado

João Pedro expõe distância entre Brasil e Europa

Cria do Fluminense elimina ex-clube e simboliza o abismo 

📷 Reprodução: X (Twitter) - Football__Tweet

O Fluminense foi até onde deu no Mundial de Clubes 2025. Parou nas semifinais, derrotado pelo Chelsea por 2 a 0, com os dois gols marcados por João Pedro — nascido, criado e revelado nas Laranjeiras. Aos 23 anos, o atacante brasileiro, agora com cidadania italiana e rodagem europeia, foi a peça-chave da classificação inglesa. Enquanto isso, o Tricolor das Laranjeiras tenta entender como a joia que brilhou ontem já não veste mais sua camisa desde os 18 anos. A ironia é quase poética, ainda que dolorosa.

No campo, o Chelsea foi superior taticamente. Impôs ritmo, dominou os espaços e marcou com precisão cirúrgica — com perseguições individuais longas, bem executadas, que até pouco tempo eram tratadas como heresia por aqui. O time inglês chegou à semifinal com uma torre de babel em campo: jogadores de dez nacionalidades, todos ajustados num mesmo modelo de jogo. O Brasil, por outro lado, segue exportando precocemente talentos como Estêvão, que já se apresenta ao Chelsea antes mesmo de encerrar a adolescência. Nossa cultura tática, em parte, ainda repousa sobre as mesas redondas e o achismo de sempre.

📱 FEIRA DE SANTANA NOTÍCIAS 24H: Faça parte do canal do Folha do Estado no WhatsApp

A real distância entre Brasil e Europa, hoje, vai além do dinheiro. É estrutural, cultural e formativa. Treinadores como Abel Ferreira escrevem livros. Aqui, seguimos presos à oralidade e ao saudosismo. Ainda há quem defenda que "o Fluminense jogou melhor" sem ponderar calendário, intensidade ou profundidade de elenco. Nos falta método, não talento. E nos falta método justamente porque o talento vai embora cedo demais. A sentença Bosman, décadas depois, segue fazendo do aeroporto o maior rival dos nossos clubes.

O futebol brasileiro não está morto — está mal distribuído. Os grandes clubes ainda produzem craques, mas não conseguem mantê-los. A criação de uma liga forte, com visão econômica e esportiva, pode frear esse êxodo. Não se trata de prender Neymar aos 21 anos, mas de não vender João Pedro e Estêvão aos 18. É hora de mudar a lógica, sob pena de ver nossas revelações voltarem, ano após ano, para nos eliminar. E ainda sem comemorar os gols — por respeito. Mas respeito, convenhamos, não ganha jogo.

 

Comentários:

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Já Registrado? Acesse sua conta
Visitante
Sábado, 12 Julho 2025

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.jornalfolhadoestado.com/