Argentinos caminham mais de 2 mil quilômetros e visitam Paróquia Quilombola da Matinha

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Argentinos caminham mais de 2 mil quilômetros e visitam Paróquia Quilombola da Matinha

Grupo refaz o caminho do missionário 'Negro Manuel'

Crédito: Divulgação

O arcebispo metropolitano de Feira de Santana, Dom Zanoni Demettino Castro, encontrou-se nas margens da BR-116 com um grupo de oito peregrinos católicos que saíram da Argentina, a pé, e estão passando por Feira de Santana, em direção a Recife/PE carregando dois andores das santas, Nossa Senhora Aparecida e da Virgem de Guadalupe.

Os fiéis estão fazendo a peregrinação revivendo a história de 'Negro Manuel', o servo de Cabo Verde, ligada ao século XVII, à origem da devoção a Virgem de Luján, padroeira do país. Aos 25 anos, ele foi vendido e levado ao Brasil para servir o capitão português Andrea Juan. Lá, foi batizado na noite de Natal de 1629.

De acordo com registros históricos, alguns meses depois, o capitão Juan partiu para uma missão especial: levar uma imagem da Virgem Imaculada para uma capela em Sumampa, na região de Santiago del Estero. No entanto, quando desembarcou em Buenos Aires, atrasado por outros trâmites, delegou a tarefa de completar a entrega via terra a seu servo de confiança. No segundo dia da marcha, os bois amarrados à carroça com a imagem da Virgem pararam de repente e não quiseram continuar o caminho. O 'Negro Manuel' não teve dúvidas: Nossa Senhora escolheu parar bem ali, em Luján, cidade da Argentina.

O Padre Luís Pirellis, que é um dos romeiros, diz que além das dificuldades óbvias do sacrifício, eles enfrentam mais obstáculos por causa do estado das estradas brasileiras. "Saímos de avião de Buenos Aires até Guarulhos, em São Paulo, e iniciamos a peregrinação pelo santuário de Nossa Senhora da Aparecida (padroeira do Brasil), no dia 15 de abril de 2023 e chegamos à Feira de Santana, na terça-feira (11). Uma jornada de três meses e terminaremos em 15 de agosto, onde completaremos 4 meses de caminhada. Evidentemente não fizemos todo o percurso totalmente a pé, porque duraria muito tempo e as estradas não tem acostamento e são muito perigosas. Pegamos algumas caronas com alguns motoristas, mas tinha as imagens dos santos que não cabiam com facilidade nos veículos. A maior parte foi no sacrifício, por exemplo, superamos, 2.200 quilômetros a pé e cerca de 700 quilômetros de carona", diz.

O religioso diz ainda que o maior objetivo que move todo grupo é fortalecer a fé e esperança do povo. "A primeira vista parece que somos um grupo de peregrinos carregando a imagem das padroeiras do Brasil e da américa Latina, mas o mais importante, que não se vê, é o incentivo a fé do nosso povo que cada vez que a Nossa Senhora nas estradas, caminhos e ruas, se alegram no coração e renovam sua fé. A essência, nos motiva, no espírito e intenção. Fazer com que todo mundo se encontre com a mãe das mães através da fé. Devemos este espírito ao Negro Manoel que foi escravizado, trazido da África para Pernambuco e foi de Pernambuco a Buenos Aires e presenciou o milagre da Virgem de Luján. Estamos copiando sua vida, que dedicou sua vida inteira aos pobres e sua imagem bendita. Todos nós queremos seguir seu exemplo. Queremos emprestar nosso corpo, nossos ombros. A origem da história da América sempre foi assim, através da Virgem, chegamos a Deus. O nosso maior desafio ao longo da jornada é lutar conosco mesmo e com o cansaço, sabemos que somos falhos, mas temos algo incrivelmente precioso, que é a nossa fé. Deus há de interferir e nos fortalecer. Muitas vezes quando nos faltam forças é isso que nos faz continuar por cerca de 45 quilômetros diários e 6 quilômetros por noite. Damos graças a Deus e chegamos pela força de Cristo", explica.

Dom Zanoni, conta como, de uma forma inusitada, encontrou o grupo de romeiros na estrada e fez um registro nas redes sociais. "Nós estávamos já esperando a chegada deles, do Padre Luiz que tem se comunicado conosco, embora muitas vezes falte a internet. Entretanto, eu não esperava encontrá-los na BR. Fui a Vitória da conquista por outro compromisso e, ao passar, os avistei. Corri e fiz um registro para postagem no Instagram onde a repercussão foi grande, com 56 mil visualizações. Eu creio que a cidade de Feira é grande e não daria para fazer a visita completa, mas faremos a primeira Paróquia Quilombola do Brasil, quem sabe da América Latina. O quilombo que era um lugar onde Negro Manoel deve ter estado, pois lá se encontravam os escravizados e por isso, fizemos essa Paróquia. A visita do Negrito Manoel a esta comunidade é um momento bastante valioso e importante para a igreja", detalha.

 

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Domingo, 19 Mai 2024

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