Colecionadoras feirenses defendem sua paixão por bonecas realistas e rebatem críticas da internet: "Falta conhecimento sobre a arte"

Geral'Bebês Reborn'

Colecionadoras feirenses defendem sua paixão por bonecas realistas e rebatem críticas da internet: "Falta conhecimento sobre a arte"

O assunto virou alvo de preocupação e diversas críticas por profissionais da área de saúde mental, internautas e até mesmo políticos 

Foto: Arquivo Pessoal/ Magaly Munduruca

A arte sempre foi utilizada como forma de expressão do ser humano, para registrar experiências e sentimentos, além de refletir o pensamento. Um exemplo disso, e que tem ganhado grande notoriedade nos últimos dias, é a produção das bonecas hiper-realistas ou bebês reborn.

O que parece ser mais um trend das redes sociais na verdade faz parte de um movimento que surgiu no início da década de 90, após entusiastas desejarem bonecas com aparência de crianças reais. A paixão por bonecas reborn cresceu e a técnica de produção se aprimorou desde então em diversos países. No Brasil a comunidade de colecionadores e artistas também costuma promover grandes encontros, além de produzirem conteúdos para a internet.

O assunto, no entanto, virou alvo de preocupação e diversas críticas por profissionais da área de saúde mental, internautas e até mesmo políticos, após vídeos de influenciadores viralizarem nas redes sociais, simulando rotinas diárias com bebês reborn como se estivessem com uma criança de verdade, partos de bonecas empelicadas, visitas ao hospital, dentro do transporte público, dentre outros momentos.

Foto: Arquivo Pessoal/ Magaly Munduruca

Para a colecionadora feirense Magaly Munduruca (@magalyreborn), as críticas ao universo reborn são fruto de desconhecimento. Formada em Pedagogia e pós-graduada em Educação Inclusiva, ela é casada e mãe de duas filhas já adultas.

Em entrevista ao Folha do Estado, Magaly revelou que possui no total 48 bonecas realistas em sua coleção. Uma paixão que começou ainda na infância e que hoje é como um hobbie, com ensaios fotográficos produzidos em sua própria casa e divulgados nas redes sociais.

"As minhas bonecas são bem realistas, sou muito exigente na hora da compra e de escolher as características. Geralmente escolho a cor da pele, as marquinhas de vacina e outras de nascença, os olhos são de vidro, os cabelos, cílios e sobrancelhas prefiro que sejam implantados fio a fio do tipo bem fininho, para simular realmente um fio de cabelo humano. Na minha coleção há uma diversidade muito grande de bonecas, participo de eventos, encontros de colecionadores e artistas para apreciação da arte", contou a pedagoga.

Foto: Arquivo Pessoal/ Magaly Munduruca

Ela afirmou que muitos conteúdos produzidos para a internet são de influenciadores e as críticas ganharam espaço por falta de informação sobre a arte em si.

"As pessoas não precisam gostar das mesmas coisas, e o respeito deve prevalecer sempre. Muitas pessoas publicam conteúdos sem o conhecimento da verdadeira da arte. Eu me alegro em colecionar e apreciar, pois sei quem eu sou e tenho as bonecas como hobbie. Só me divirto com tanta falta de informação nas publicações só para ter engajamento."

Para Magaly Munduruca, os ensaios produzidos com as bonecas não passam de uma brincadeira, feitos em momentos de lazer para fugir do estresse do dia a dia.

Foto: Arquivo Pessoal/ Magaly Munduruca

"Com a arte reborn eu registro os detalhes, porque é paixão, aconchego e amor para quem aprecia. Não os trato como filhos. Na correria do dia a dia encontro a diversão nas bonecas, faço fotos com decorações e cenários improvisados em minha própria casa e assim brinco. Eu aproveito cada clique com minhas inúmeras fotos, porque é impossível tirar somente uma e publico nas redes sociais, onde há muitos seguidores. A arte reborn imita a vida, mas isso não significa que temos que tratá-las como crianças reais, e também não há o direito de ninguém julgar."

Foto: Arquivo Pessoal/ Magaly Munduruca

Empreendedorismo

Também de Feira de Santana, a colecionadora e artista reborn Renata Magalhães (@chicchicmenininha), de 46 anos, casada, compartilhou sobre a sua experiência comercializando as bonecas. Mãe de 3 filhos, ela mantém uma loja online e vende para entusiastas de todo o Brasil desde 2018.

"Há 7 anos eu confecciono as bonecas. O que me atraiu neste universo foi a realização do sonho da minha filha, que me pediu uma boneca de presente de aniversário e compramos um bebezinho com uma artista de São Paulo. No ano seguinte, ela já queria outro bebê, foi quando procurei colegas que davam o curso e passei a confeccionar. Daí em diante não parei mais", revelou ao Folha do Estado.

Foto: Arquivo Pessoal/ Chic Chic Menininha

Cada bebê reborn produzido por Renata leva em média de 15 a 30 dias para ficar pronto. Tudo depende do material e os detalhes escolhidos por cada cliente.

"Os bebês podem ser fabricados com silicone sólido ou um kit composto por cabeça, membros superiores e inferiores todos de vinil. O corpo pode ser também de tecido; os olhos podem ser sintéticos, de resina ou vidro, já o cabelo pode ser feito de lã de ovelha para simular o realismo pois ele é bem mais fino, e pode-se usar também o cabelo de fibra sintética ou humano infantil. Além desses itens, utilizamos um forno, porque são várias camadas de pele e para fixar a tinta no vinil e vernizes, e temos agulhas específicas para o enraizamento dos cabelos. Um bebê fica a partir de R$ 1.500 mas o valor pode ser maior a depender dos materiais, a montagem e as características", explicou.

Foto: Arquivo Pessoal/ Chic Chic Menininha

Apesar da febre dos últimos dias da internet, a empreendedora relata que não observou um grande crescimento na procura pelas bonecas em Feira de Santana. Por outro lado, segundo Renata, a agenda precisa ser controlada, devido ao tempo de confecção do produto. "A minha maior demanda é na época do Dia das Crianças e Natal. E como muitas vezes as pessoas deixam para encomendar em cima da hora e o tempo de confecção é grande, me preparo produzindo bebês para pronta entrega e atender esse período."

De acordo com a artista, 95% do seu público é mesmo de mães e avós que desejam presentear filhas e netas. Os outros 5% são de pessoas que amam a arte reborn e compram para colecionar.

"Como meu público maior é infantil a finalidade é para brincadeiras. Mas tem outras pessoas que buscam porque admiram a arte ou querem presentar uma mãe que não teve condição de no passado ter uma boneca. Além de artista reborn também coleciono e sou apaixonada pelo meu trabalho. Viajo com os bebês, vou a restaurantes, sempre estou com um ao meu lado para fazer a divulgação, e sempre levo meus cartões para onde vou. É uma arte maravilhosa e traz muitos benefícios", aponta.

Foto: Arquivo Pessoal/ Chic Chic Menininha

Nicho de mercado

Na opinião de Renata, os vídeos que estão sendo feitos na internet criticando a arte reborn têm trazido muitos prejuízos e preconceito para todo um nicho de mercado.

"Tem vários vídeos na internet criticando a arte reborn, dizendo que é uma fuga para pessoas com síndrome do ninho vazio e que têm problemas mentais, só que a arte reborn surgiu no Brasil desde os anos 90 e vem crescendo cada vez mais. Os vídeos postados na internet são feitos em sua maioria por cegonhas, fazendo a divulgação do seu trabalho, principalmente porque é mais voltado ao público infantil e tem essa parte didática, lúdica, mostrando a rotina com o bebê, dando a mamadeira e trocando a roupinha, porque as crianças gostam de visualizar. O que é visto é desejado e precisamos fazer a divulgação."

A empresária espera que essa trend passe logo. "Esses vídeos viralizaram e estão desconstruindo a arte reborn. Muitas mães sustentam suas famílias através dessa arte e esses vídeos estão prejudicando os trabalhos dessas pessoas, das escultoras, as pessoas que fazem as roupas e aqueles que vendem os materiais, é um nicho muito grande. Estão rotulando a arte reborn, e isso está distorcendo os pensamentos das pessoas. Não vejo a hora de passar esse furacão, porque as pessoas estão sendo manipuladas por pessoas da internet e isso está preocupando a todos que trabalham neste nicho. Estamos sofrendo preconceito", desabafou.

Foto: Arquivo Pessoal/ Chic Chic Menininha
Foto: Arquivo Pessoal/ Chic Chic Menininha
Foto: Arquivo Pessoal/ Chic Chic Menininha
 

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Segunda, 19 Mai 2025

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