Famílias de Feira de Santana com filhos superdotados se unem em associação na luta por políticas públicas

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Famílias de Feira de Santana com filhos superdotados se unem em associação na luta por políticas públicas

Em Feira de Santana, muitas famílias com crianças superdotadas ou dupla excepcionalidade travam uma batalha diária 

Foto: Divulgação

Neste domingo (10), é comemorado o Dia dos Pais, mas também o Dia Internacional da Superdotação. A data foi criada em 2011, durante uma conferência na República Tcheca, com o objetivo de reconhecer as pessoas que possuem altas habilidades, mas também conscientizar a sociedade sobre as necessidades específicas que elas possuem, como as diferentes formas de aprender, seus talentos e como interagem com o mundo ao seu redor.

Em Feira de Santana, muitas famílias com crianças superdotadas ou dupla excepcionalidade (quando um indíviduo apresenta altas habilidades associadas a algum tipo de transtorno de aprendizagem ou deficiência), sobretudo aquelas que possuem renda mais baixa, ainda travam uma batalha diária para garantir o atendimento especializado de saúde e educacional para seus filhos e filhas. A falta de orientação adequada, aliada à dificuldade em conseguir fechar um diagnóstico preciso na rede pública e até mesmo particular, se colocam como os primeiros entraves.

Foi o caso de Gabriela Mota Mascarenhas, 28 anos, e Deraldo Emanuel da Silva, 33, pais do pequeno Daniel Mascarenhas (danielpequenoleitor), de apenas 3 anos. A história dele viralizou em 2024 e passou a ser contada em reportagens de sites regionais e nacionais, após a família gravar vídeos do garoto demonstrando alta facilidade de aprender números, letras e palavras, não apenas na língua materna, o português, mas também em outros idiomas.

"Os primeiros sinais começaram quando ele só tinha alguns meses de vida. Ele sempre teve preferência por números, letras e desenhos educativos, ao invés de personagens infantis. Após 1 ano, a gente começou a observar que ele era diferente. Mas o processo de diagnóstico não foi fácil e envolveu custos que não conseguimos cobrir imediatamente. Somente neste ano, uma avaliação atestou que ele tinha o autismo com a superdotação, o que é chamado de dupla excepcionalidade. Por conta do TEA (Transtorno do Espectro Autista), ele tem o atraso na fala e dificuldade de socialização, já a questão do aprendizado rápido, fácil memorização e QI elevado vêm da superdotação. Agora estamos tentando conseguir as terapias para melhorar essas questões", relatou Gabriela Mota, em entrevista ao Folha do Estado. 

Foto: Arquivo Pessoal | Daniel Mascarenhas, Pequeno Leitor

Segundo Gabriela Mota, Daniel está prestes a completar 4 anos e desenvolveu de forma autodidata a leitura e a escrita em português, além de se interessar por aprender palavras em inglês, francês, russo, o koreano e mais recentemente o árabe.

"Ele tem a facilidade de aprender outras línguas, desenvolvendo por si só as aptidões, mas ainda são os elementos básicos, como o alfabeto, números, cores e formas. Deixamos ele livre e nunca impomos nada, só observamos. Nosso desafio é conseguir guiá-lo em relação às assincronias da superdotação."

Com o diagnóstico fechado, a mãe de Daniel busca conseguir a cobertura do acompanhamento dele, através do plano de saúde. No entanto, ela relata que devido ao autismo associado à superdotação, os tratamentos precisam ser diferentes dos convencionais, o que recai na falta de profissionais especializados e a falta de interesse do plano em garantir os atendimentos.

"O que a gente percebe é que tanto o sistema privado quanto o público não está ainda preparado para receber esse tipo de criança, com essas especificidades. Então estamos buscando da melhor forma o que o plano pode fazer em relação a isso. Mas se soubéssemos que o SUS tinha essa oferta, com certeza iriamos buscar o poder público."

Mãos unidas

Em busca de acolhimento e orientação, os pais de Daniel também fazem parte da Associação "Cristais dos Olhos D'Água - Ordem dos Superdotados e Duplamente Excepcionais", com sede em Feira de Santana, criada com o intuito de apoiar famílias que se encontram na mesma condição, mas muitas vezes não têm o direcionamento do que fazer.

A entidade foi idealizada há cerca de 1 ano pela pedagoga e servidora pública Vanilde Silva, mãe do pequeno Rael Reis (raelreis.genial), de 4 anos. Segundo ela, a ideia surgiu após o filho ser diagnosticado com superdotação profunda, apresentando um QI acima de 140. O garoto possui grande facilidade para aprender sobre mapas, bandeiras de países, operações matemáticas e idiomas, como o inglês.

À época, mesmo tendo condições de oferecer um suporte melhor a Rael, o processo foi árduo para fechar o diagnóstico e realizar as terapias. Foi quando percebeu que precisava dar visibilidade à causa e ajudar outras pessoas a buscarem seus direitos.

"Precisei juntar outras mães de Feira de Santana para a gente lutar por mais políticas públicas voltadas para essas crianças, principalmente na questão da saúde, quadro escolar, e desenvolvimento social deles. Muitos têm baixa renda e não têm acesso ao que necessitam. Falta atendimento com fonoaudiólogo, porque eles não têm muita velocidade de processamento; terapia ocupacional, pois muitos desenvolvem sensibilidade sensorial intensa; apoio psicológico, pois quando eles chegam na idade de 8 a 10 anos, começam a ter problemas com ansiedade e frustração, e geralmente as famílias não conseguem encontrar profissionais com facilidade. Muitos acham que por serem superdotadas, essas crianças não precisam de nada", relatou ao Folha do Estado.

Foto: Arquivo Pessoal | Rael Reis ao lado dos pais

De acordo com Vanilde, ela elaborou um projeto solicitando ao poder público municipal o acompanhamento voltado para crianças com superdotação na cidade, principalmente aquelas que têm adoecimento já por conta da condição.

"Graças a Deus, através da Associação, já conseguimos apoio para algumas crianças conseguirem testes gratuitamente e algumas famílias que fazem parte do grupo auxiliam a associação através de suas profissões. Mas ainda estamos aguardando o poder público dar uma devolutiva, pois segundo eles estão realizando estudos de impacto social e orçamentário. Eu espero que em breve tenhamos uma boa notícia, mas até o momento não temos nada concreto."

O advogado Leonardo Lago, que é presidente da Associação Cristais dos Olhos D'Água, informou que a entidade conta atualmente com 18 membros. Ele contou que passou a fazer parte do projeto, junto com Valnilde e outras famílias, por também possuir a dupla exepcionalidade (autismo e superdotação).

"A Ordem dos Superdotados e Duplamente Excepcionais, neste momento, é constituída por 18 famílias, mas temos também um grupo geral chamado "União das Famílias de Superdotados", que funciona como um acolhimento das famílias que tem suspeitas, mas ainda estão buscando a confirmação. Nós aceitamos pessoas de qualquer idade e lugar, pois pretendemos descentralizar a instituição em novas entidades à medida que tivermos membros suficientes em cada cidade", revelou.

Na opinião dele, apesar da existência do Dia Mundial da Superdotação, a sociedade ainda não tem consciência do fenômeno. "Nossa missão é tornar isso um fato notório e que as pessoas nos busquem para encontrarmos os seus filhos extraordinários e que possamos contribuir com suas famílias."

A Associação Mensa Brasil estima que o Brasil já alcançou marca de cinco mil pessoas com superdotação ou "superinteligentes". O país ocupa, dessa forma, a 6ª colocação no ranking global Mensa Internacional, principal organização de alto QI do mundo, ao de países como o Japão, e atrás somente dos Estados Unidos, Ilhas Britânicas, Alemanha, Suécia e República Tcheca.

 

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Segunda, 11 Agosto 2025

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