Feira de Santana tem primeira paróquia em comunidade quilombola do Brasil
A nova paróquia reúne 13 comunidades
No último domingo (28), a uma semana, a arquidiocese de Feira de Santana elevou a igreja de São Roque, na Comunidade Quilombola Matinha dos Pretos a paróquia.
A nova paróquia reúne 13 comunidades em sua área pastoral, com o maior número de comunidades quilombolas no município de Feira de Santana. A nova paróquia tem uma caminhada histórica na resistência, na luta pela terra, em meio aos desafios, mas nunca perdeu a esperança, a fé e a alegria com sua rica diversidade cultural.
Para Francisca das Virgens Fonseca, da Comunidade Quilombola Candeal II é um tempo de esperança, de uma certeza da presença profética e samaritana da Igreja. Esperança, fé e alegria são as marcas desse povo que luta para defender suas tradições culturais, raiz da africanidade.
"Para nós a criação desta nova paróquia representa expectativas e desafios de um tempo novo, mas não diferente com uma evangelização tentando recuperar as expressões culturais dos povos quilombolas com sua diversidade cultural e religiosa. É um momento para igreja agregar tudo isso em seu modelo de evangelizar. Trazer o Evangelho para a vida e manifestar a sua fé utilizando elementos da cultura e fortalecendo a nossa identidade, e através da Pastoral Afro-brasileira trazer o Evangelho para a vida do povo", revela Francisca.
A paróquia São Roque, tem uma história de mais de 100 anos de lutas e resistência. Tem seu território desmembrado da Paróquia São Jose das Itapororocas. Uma comunidade com uma história iniciada com o Quilombo da Matinha dos Pretos. Surgiu com os escravos que fugiram da Senzala da Fazenda Candeal e iniciaram um lugar para resistir à escravidão, e com a fé de uma moradora que decidiu pagar uma promessa a São Roque pedindo que a Peste Bubônica não chegasse à comunidade. E com o pedido atendido comprou a imagem e iniciou a construção da capela dedicada ao santo.
A criação da paróquia São Roque representa a presença da igreja numa região marcada pela luta e resistência. Desde a construção da igreja foi travada a luta para a sobrevivência no cultivo da terra produzindo produtos agrícolas. Um sonho e uma conquista para Francisca das Virgens Fonseca que conta um pouco dessa epopeia de conquistas.
"A criação da paróquia para nós moradores de comunidades quilombolas representa o momento de expectativas e desafios pelo novo, de uma forma de evangelização tentando recuperar as expressões culturais do povo quilombola com sua diversidade cultural, religiosa, do jeito de ser e de produzir e uma expectativa da igreja agregar tudo isso", revela Francisca.
O padre Luiz Antônio destaca a necessidade de ser uma Igreja solidária a dor do povo quilombola que traz na sua história a luta e a resistência. Um povo sofrido que sobrevive às intempéries e influencias do centro urbano com a violência e dificuldades de acesso aos meios e benefícios sociais. O sacerdote tem como proposta a construção de uma paróquia que seja comunidade de comunidades.
Na opinião do missionário da Consolata, padre Luis Antônio, que está assumindo a nova paróquia com uma presença da igreja em uma comunidade quilombola sendo a primeira no Brasil. O sacerdote teve a sua formação teológica no Quênia, na África, atuando como Diácono em Uganda e depois da ordenação sacerdotal teve uma experiência em Luanda, como primeira missão.
"Os valores tradicionais da cultura africana ainda não são bem vistos e o desafio é trabalhar com o povo para que sinta orgulhoso da cultura e recorde aqueles que lutaram pela libertação dos negros. Nesse momento inicial vamos aprender com eles, e vamos acompanhar e formar uma rede de comunidades. É necessário estar na comunidade para acompanhar as lutas do povo, seus anseios. Nesse caso da Matinha são muitas as dificuldades como transporte público", disse o padre Luiz Antônio, Missionário Consolata.
Com informações do Vatican News
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