Usuários do Planserv protestam contra recusas no atendimento em hospitais e clínicas de Feira de Santana
Movimento 'Devolva meu Planserv' reuniu apoiadores na Avenida Getúlio Vargas
Feira de Santana Notícias 24h - Servidores públicos estaduais e seus familiares, todos beneficiários do Planserv, se manifestaram com faixas e cartazes, na manhã desta terça-feira (4), no canteiro central da Avenida Getúlio Vargas, em Feira de Santana. Eles denunciam uma série de problemas enfrentados pelos usuários em relação ao serviço prestado por clínicas e hospitais credenciados à rede.
Em entrevista ao Folha do Estado, a técnica de enfermagem Andreia Andrade, que é servidora da saúde pelo governo do estado desde 2005, informou que faz parte da comissão que luta pela garantia dos direitos dos beneficiários do Planserv, bem como a melhoria do serviço prestado. Segundo ela, a manifestação realiza hoje foi a primeira organizada pelo grupo, com o objetivo principal de reivindicar o direito à assistência.
Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Rosalvo Ferreira também integra a comissão, e destacou que os usuários do Planserv estão insatisfeitos com o que vem acontecendo, sobretudo porque o valor pago pelos servidores é descontado mensalmente em folha.
"Nós estamos aqui hoje em decorrência de um grupo de familiares e servidores estaduais que estão insatisfeitos com o atendimento do Planserv, que é um de saúde descontado mensalmente em nossas folhas de pagamento, ou seja, não tem inadimplência ou risco de perda. No planserv, o governo do estado entra com a contrapartida, mas infelizmente nos últimos dois anos isso foi reduzido. Esse plano varia de acordo com a renda do servidor, e é praticamente a metade do que uma pessoa pagaria por um plano de saúde privado, principalmente os mais idosos."
Ele confirmou que os dois grandes hospitais credenciados da rede não estão admitindo usuários do Planserv.
"Nos últimos quatro meses, aumentaram bastante os atendimentos de emergência, que aqui em Feira de Santana são atendidos basicamente no Emec e São Matheus, os dois maiores hospitais. Mas não estão atendendo, dizem que não estão descredenciados, mas informam que está sempre lotado, não tem vaga, na verdade se fala de cotas. Você liga para marcar para uma consulta, por exemplo, recentemente tive um problema no joelho e liguei para as clínicas credenciadas e não tinha cota. Aqui na Bahia, existem pelo menos seis grupos de whatsapp com uma média de 500 a 600 pessoas só para que os servidores e beneficiários do Planserv tentem entre si achar um lugar onde fazer atendimento e procedimentos. Existe um aplicativo do plano, com as especialidades, o contato e endereço das unidades, mas quando você liga não tem vaga a cota está esgotada."
Questionado sobre a possibilidade de os usuários tentarem reembolsos pelo Planserv, Rosalvo explicou que o procedimento é bastante burocrático e desgastante.
"O reembolso por atendimentos feitos em outras unidades particulares acontece, só que a demora é muito grande. Você tem que ir para a Justiça, procurar um advogado, e a Justiça é lenta neste aspecto. E existe um universo de servidores estaduais, onde nem todos possuem o nível de conhecimento necessário de que pode pedir um reembolso, por meio de um processo. O beneficiário vai de um lugar para outro e as portas batem na cara dele. O último recurso é pagar participar, mas e quem não pode? Aliás, quando se fala em pagar particular, o servidor público da Bahia passou por um arrocho salarial que é o pior da história. Isso empobreceu e endividou a categoria. Existem servidores hoje que saem do Planserv, para liberar a margem e tomar empréstimo consignado até para se alimentar", desabafou.
Um dos servidores presentes na manifestação revelou ao Folha, em condição de anonimato, que mensalmente são descontados da folha de pagamento cerca de R$ 1,700 referentes ao plano dele, da esposa e do filho. Entretanto, quando precisam utilizar não conseguem.
"Pago há mais de 30 anos o Planserv. Para mim, minha esposa e meu filho, são descontados mensalmente na faixa de R$ 1,700. Mas é muita dificuldade para marcar consulta, fazer exames, inclusive já entrei na Justiça com algumas notas fiscais de exames que minha esposa precisou fazer, pois não conseguiu marcar ou o Planserv negou o atendimento. Eu tive que colocar na Justiça, mas já tem mais de dois anos que está lá na mesa do juiz e nunca saiu o resultado. A verdade é que me sinto com as mãos atadas, porque já pago há mais de 30 anos esse plano, e quando a gente precisa tem toda essa dificuldade para qualquer procedimento. Eu entrego na mão de Deus. Eu já tentei ir para outro plano de saúde, mas fica inviável financeiramente, muito caro e realmente eu não tenho condição de pagar", contou o servidor.
Diacira Oliveira Souza Silva também é beneficiária e considera revoltante a situação que todos estão passando.
"Não temos atendimento em lugar nenhum de Feira de Santana, e isso é ridículo o que estão fazendo com o pessoal do Planserv. Não existe isso, pois a pessoa já paga, já vem descontado e não tem direito. Isso é horrível, é a saúde", declarou.
Aos 84 anos, a beneficiária Adjaci Sampaio Lima Santos precisou ir para Salvador para realizar um tratamento, porque em Feira não conseguiu.
"Feira de Santana, a segunda cidade da Bahia, depois da capital, e nós não temos assistência quase nenhuma. Eu já retirei vários sinais que são cancerígenos e qualquer sinal eu preciso tirar, fui até as clínicas e disseram que estava suspenso. Me indicaram outros lugares, fui em todos, mas não pude ser atendida porque disseram que não tiravam. Como minha filha é médica, me levou para Salvador e eu tirei lá faz três semanas. Então eu acho que é um desrespeito ao funcionalismo público, porque em nenhum governo eu vi tanta insatisfação com os beneficiários do Planserv", protestou a idosa.
Outra entrevistada, Maria Sidália Faustino Araújo relatou que o marido foi subtenente da PM e durante toda a vida dele quase não utilizou o plano, mesmo pagando mensalmente pelo serviço. Quando mais precisou, não teve a assistência que merecia.
"Meu marido paga o Planserv há 55 anos, sofreu um Acidente Vascular Cerebral, foi para o hospital e foi até bem tratado lá, só que levou 10 meses internado porque o plano não queria dar um homecare. É uma pessoa que não anda, não se movimenta para nada, nem engole a própria saliva, é tudo pela sonda e fica só com os olhos abertos. Nós levamos 10 meses eu pagando do próprio bolso uma acompanhante porque eu não podia ficar, nem eu, nem meus filhos, por causa do trabalho. Ganhamos a causa, mas eles fizeram pouco caso, enrolaram, tivemos que recorrer e voltou para o juiz, que colocou para eles fornecerem o homecare 24 horas por dia. Como é que o Planserv não pode pagar as coisas para o servidor público, se não tem inadimplência? Ele quase nunca foi ao médico, mas quando precisou foi assim", lamentou Maria Sidália.
A reportagem do Folha do Estado buscou uma resposta junto ao Hospital Emec, administrado pela Rede Mater Dei, para apurar as denúncias. A assessoria informou que iria se pronunciar através de nota aos usuários e à imprensa, que não foi enviada até o fechamento desta reportagem. Além disso, adiantou que desconhece qualquer negativa de atendimento aos servidores do Planserv.
Posiciamento do Planserv
Na última segunda-feira (27), a coordenação-geral do Plano de Assistência à Saúde dos Servidores Públicos Estaduais (Planserv) informou, através de matéria publicada pela Secretaria de Comunicação do Governo do Estado, que não há teto orçamentário com limite de atendimentos de urgência e emergência nos hospitais que atendem à rede credenciada para os servidores.
Segundo coordenação-geral do Plano, nenhum beneficiário deixará de ser atendido se precisar ir urgentemente buscar atendimento médico nos hospitais que atendem o Planserv. "A gente salva as pessoas todos os dias e paga todos estes atendimentos mesmo quando eles excedem o orçamento destinado àquela unidade", ressaltou a coordenadora geral do Planserv, Socorro Brito.
O mesmo aconteceria para as consultas médicas de todas as especialidades que são solicitadas e agendadas em consultórios, clínicas e hospitais, a partir da necessidade do servidor público estadual. Ela explicou que não há impedimentos de agendamento do atendimento médico especializado por conta do orçamento público, mesmo que ultrapasse o limite de 12 consultas ao ano.
"Às vezes as pessoas reclamam que só conseguem marcar uma consulta para dali a dois meses ou mais, mas essa limitação é da agenda do profissional médico ou do prestador de serviço, e não do Planserv", explicou Brito, acrescentando que o paciente pode conseguir uma consulta mais rápida em outra unidade médica credenciada se não quiser esperar.
Conforme a direção do Planserv, atualmente, é cobrada uma taxa de R$ 10 para consultas acima de 12 anuais, exames de laboratório acima de 30 e demais exames acima de oito, mas limitada a R$ 30 por pessoa pelo total de procedimentos excedentes. Socorro Brito afirmou que os valores são módicos em comparação aos planos de saúde privados que existem no país, porque o Planserv é subsidiado pelo governo do estado.
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