Audiência nos EUA: empresários do Brasil ouvem que tarifas são políticas
Empresários brasileiros se reuniram com número 2 da diplomacia dos EUA e ouviram que as tarifas de Donald Trump aplicadas ao Brasil são políticas
Empresários brasileiros em viagem a Washington se reuniram na tarde desta quarta-feira (3) com Christopher Landau, número 2 do Departamento de Estado dos Estados Unidos, órgão equivalente ao Ministério das Relações Exteriores, em meio a uma missão para tentar reduzir as tarifas impostas ao Brasil.
Segundo duas pessoas a par da conversa, Landau disse que o governo americano está aberto ao diálogo, mas que as tarifas aplicadas ao Brasil são políticas e, portanto, não adiantaria levar a conversa para questões comerciais.
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O americano afirmou que todas as razões para a aplicação da sobretaxa adicional de 40% estão explicitadas no decreto de Trump que as implementou. Na decisão, o presidente Donald Trump justificou as sobretaxas aplicadas ao país pelo que ele vê como uma "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e decisões do ministro Alexandre de Moraes.
Participaram da reunião o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Ricardo Alban, o representante da Amcham (Câmara de Comércio Brasil-EUA), Abrão Neto, e o ex-diretor da OMC (Organização Mundial do Comércio), Roberto Azevêdo.
Landau disse ainda que a missão dos empresários seria mais efetiva se atuasse junto a autoridades brasileiras para sensibilizá-los dessa avaliação do governo americano.
Alban, que está com uma missão de mais de 120 empresários nos EUA, confirmou o teor da reunião e admitiu não ter expectativa de que haja redução de tarifas no curto prazo.
"Ele colocou que o assunto passa por soluções políticas", disse Alban. Segundo o presidente da CNI, o vice-secretário do Departamento de Estado não citou o nome de Bolsonaro, embora tenha enfatizado que as tarifas são políticas -o que está atrelado ao ex-presidente. Landau, por sua vez, fez questão de frisar que há um incômodo dos americanos com decisões que eles consideram como censuras a empresas.
"Saiu da boca dele que [as sobretaxas] passam pela política, por várias decisões que o Judiciário tem feito com relação a empresas americanas e cidadãos americanos", contou Alban.
Com a declaração, o empresário afirmou ter visto um caminho para tentar melhorar o diálogo com o governo dos EUA que passa por conversar sobre a regulação das big techs. Alban disse que voltará ao Brasil com a missão de dar um retorno ao governo brasileiro.
"O secretário Landau disse: olha, vocês aqui que fazem lobby nos Estados Unidos, precisam fazer lobby no Brasil", contou o presidente da CNI.
Segundo ele, Landau também afirmou que o Departamento de Estado está aberto a discutir com o governo brasileiro o tema, embora tenha indicado que a conversa trataria da questão política que envolve a retaliação comercial, o que o presidente Lula (PT) já afirmou que não fará.
O governo brasileiro só está disposto a discutir questões comerciais. Por isso, o Departamento de Estado é o órgão que tratará desse tema, e não o Departamento do Tesouro ou do Comércio.
O governo americano pressiona por um alívio a Bolsonaro, que enfrenta nesta semana julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) por acusação de ter articulado uma trama para impedir a posse do presidente Lula após ter perdido a eleição.
De acordo com Alban, os integrantes do Departamento de Estado não citaram o julgamento de Bolsonaro nesta semana, nem a anistia, mas falaram do momento tenso pela qual passa a relação.
"Não se chegou a falar basicamente de novas sanções, mas que o momento, obviamente, que é crítico. e que eu quero crer que em nenhum momento tivemos nenhuma percepção de novas sanções econômicas", disse.
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