Inadimplência das famílias encerra primeiro trimestre de 2023 em alta

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Inadimplência das famílias encerra primeiro trimestre de 2023 em alta

Neste período, crescimento na concessão de crédito desacelerou 

Crédito: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

De acordo com os dados publicados na quarta-feira (26) pelo Banco Central, a taxa de inadimplência das famílias com recursos livres subiu de 5,91% para 6,17% no primeiro trimestre de 2023. Esse aumento foi antecipado pelo indicador da Boa Vista de Registros de Inadimplentes, que havia apontado alta de 5,1% no número de registros entre o quarto trimestre do ano passado e o primeiro trimestre do ano corrente na série de dados dessazonalizados.

Apesar dessa alta, é importante notar que a taxa pouco variou entre os meses de janeiro (6,10%), fevereiro (6,11%) e março (6,17%), o que sugere uma perda de ritmo de elevação, diferente do que se viu ao longo do ano passado. Essa tendência de acomodação também tem sido percebida na curva de longo prazo do indicador da Boa Vista, que aponta crescimento de 22,4% em 12 meses acumulados e que deve desacelerar ao longo dos próximos meses, sobretudo no 2º semestre de 2023.

Na avaliação de Flávio Calife, economista da Boa Vista, "não há dúvidas de que as famílias ainda encontram muitas dificuldades para manter as contas em dia, tanto que o indicador da Boa Vista e a taxa de inadimplência somaram nove avanços consecutivos na comparação mês a mês, mas esses avanços têm sido menores e a taxa pode estar próxima de se estabilizar, mesmo que num patamar um pouco mais elevado. A reversão dessa alta, por outro lado, parece fora do radar ainda, pelo menos no curto prazo, porque apesar da renda estar melhorando, é importante lembrar que ela veio de dois anos de queda, a taxa de desemprego voltou a subir, o endividamento e o comprometimento de renda das famílias ainda são altos e o cenário macroeconômico ainda é muito desafiador, com projeções de baixo crescimento e de juros e inflação ainda altos pela frente".

A taxa de juros média cobrada das famílias nas operações com recursos livres até caiu, ainda que muito pouco, entre os meses de fevereiro e março, de 58,31% para 58,26%, mas é maior em comparação aos 55,66% de dezembro de 2022. Neste primeiro trimestre o spread bancário subiu 2,76 pontos percentuais, para 45,19 pontos, enquanto o custo médio de captação recuou 0,16 ponto percentual, para 13,07%. A concessão desses créditos se manteve numa trajetória de crescimento desacelerado, o ritmo passou de 21,0% para 18,0% entre os meses dezembro e março. As variações neste 1º trimestre foram antecipadas de perto pelo indicador da Boa Vista de Demanda por Crédito do Consumidor. O indicador havia apontado alta de 17,7% no 1º trimestre de 2023 em comparação ao mesmo período de 2022 e de 2,0% em comparação ao 4º trimestre do ano passado, já descontadas as influências sazonais. Já a concessão subiu 15,0% e 2,8% nas mesmas bases de comparação, respectivamente.

"A desaceleração na concessão não surpreende, ela surpreendeu um pouco no ano passado quando se manteve num ritmo mais forte. Agora, diante dos riscos a concessão está mais rigorosa, mais seletiva, e se depara também com uma demanda que vem perdendo força em função dos juros mais altos. As projeções de crescimento no mercado de crédito têm sido revisadas para baixo e não há nada que sugira uma reversão dessa tendência no curto prazo", conclui Calife.
 

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