Balão olímpico projeta mensagem e expõe omissão sobre Gaza

EsportesSilêncio, símbolo, protesto

Balão olímpico projeta mensagem e expõe omissão sobre Gaza

Comitê evita pronunciamento oficial enquanto Paris vira palco de denúncia global 

📷 Reprodução: X (Twitter) - folha

No céu de Paris, à vista de milhões, uma mensagem cortou o ar e o silêncio institucional: "Stop genocide in Gaza", projetada sobre o balão olímpico — um dos ícones visuais dos Jogos de 2025. O gesto, articulado por ativistas franceses e amplificado nas redes sociais em tempo real, provocou reações ambíguas: aplausos de parte do público, críticas nas instâncias diplomáticas e, sobretudo, uma inquietação que o Comitê Olímpico Internacional tentou contornar sem sucesso. A intervenção foi feita na madrugada de sábado para domingo (27), em momento de baixa vigilância, com o uso de drones e projetores de alta precisão.

Do ponto de vista técnico, o protesto revelou mais que engenhosidade logística: expôs as brechas simbólicas do evento. A Olimpíada de Paris, vendida como celebração de valores universais e paz entre os povos, hesita em lidar com os conflitos contemporâneos — especialmente os que envolvem potências ocidentais ou seus aliados. Em meio à escalada de violência em Gaza, com mais de 30 mil mortos segundo a ONU, a ausência de qualquer gesto institucional por parte do COI tornou-se uma decisão política em si. Ao optar por "neutralidade", a entidade mantém-se cúmplice de uma narrativa que dissocia o esporte da vida concreta — e, por consequência, da morte concreta também.

📱 FEIRA DE SANTANA NOTÍCIAS 24H: Faça parte do canal do Folha do Estado no WhatsApp

As implicações do ato projetado vão além do constrangimento. A ação deve reacender pressões sobre patrocinadores e comitês nacionais, alguns já alvo de campanhas online por boicote e responsabilização moral. Além disso, a tensão entre liberdade de expressão e diretrizes olímpicas tende a se intensificar nos próximos dias. Uma cláusula do manual dos atletas proíbe manifestações políticas nos pódios, mas não há regulamentação clara sobre protestos simbólicos em espaços públicos fora da Vila Olímpica. Em paralelo, cresce o risco de retaliações diplomáticas e restrições securitárias em nome da "ordem" nos Jogos.

É inevitável reconhecer: os tempos mudaram, e fingir que o esporte permanece imune ao mundo que o cerca tornou-se insustentável. O protesto no balão não foi uma afronta à Olimpíada, mas uma convocação ética — desconfortável, sim, mas necessária. Em vez de reprimir manifestações legítimas de consciência, o COI precisa rever sua postura e assumir responsabilidade no debate público. Do contrário, continuará refém de um discurso antiquado, que soa bonito no papel, mas oco diante da realidade. Como se diz lá na Bahia, quem cala consente. 

 

Comentários:

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Já Registrado? Acesse sua conta
Visitante
Terça, 29 Julho 2025

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.jornalfolhadoestado.com/