O Corinthians atravessa mais um episódio emblemático de sua conturbada temporada de 2025. Em meio a pendências financeiras e a um vestiário fraturado, o clube garante que manterá o contrato milionário com Memphis Depay, apesar dos atrasos em luvas, direitos de imagem e bonificações. A promessa do presidente interino Osmar Stabile de que "vamos cumprir o contrato" tenta conter os danos gerados pela insatisfação pública do atacante holandês, que mesmo contestado por parte da torcida, ainda é o maior responsável direto por gols no elenco alvinegro neste ano, com 17 participações.

O caso expõe fragilidades estruturais. Desde que chegou, Memphis acumulou cláusulas de bonificação por desempenho, presença em partidas e metas atingidas. A gestão anterior, afastada por irregularidades, assumiu compromissos acima da capacidade de pagamento, numa aposta de alto risco. O próprio Stabile admitiu que o Corinthians não dispõe de fluxo imediato para arcar com os valores devidos — incluindo uma nova parcela de 1 milhão de euros em setembro. O clube tenta amortecer os impactos propondo parcelamentos e sustentando, ao menos no discurso, a normalidade contratual. Não se trata de uma quebra de confiança apenas com Memphis, mas de um problema que atravessa o elenco como um todo.

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O prolongamento desse cenário pode ter efeitos corrosivos. O episódio da pichação no muro do Parque São Jorge, seguida da reunião de Memphis com líderes da Gaviões da Fiel, ilustra a tensão latente entre ídolo midiático e base torcedora. Se por um lado o jogador mantém discurso de comprometimento, por outro, o clube se arrasta entre promessas e improvisações. Em um elenco já combalido por limitações técnicas, a permanência do camisa 10 representa ao mesmo tempo uma salvação esportiva e um risco administrativo. Qualquer novo ruído — seja um atraso, seja um deslize disciplinar — pode azedar a relação e levar a um rompimento inevitável.

É sintomático que um clube do tamanho do Corinthians tenha hoje como plano de contenção a simples aposta na boa vontade de seus jogadores. O discurso de austeridade de Stabile, embora necessário, chega tarde para quem herdou uma estrutura viciada em soluções de curtíssimo prazo. A decisão de manter Memphis sem readequar o contrato pode soar, à primeira vista, como firmeza institucional, mas flerta perigosamente com a teimosia administrativa. A depender do desfecho, o Timão corre o risco de transformar um ativo técnico em passivo político — e, cá pra nós, já tem gente demais nessa barca.