TSE conclui teste em urnas e reforça robustez e transparência dos sistemas eleitorais
Nenhum achado relevante foi identificado no Teste deste ano, realizado na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília (DF).
No dia do encerramento da 8ª edição do Teste Público de Segurança dos Sistemas Eleitorais, o Teste da Urna 2025, membros das Comissões Avaliadora e Reguladora do evento garantiram que a segurança, a confiabilidade, a robustez e a transparência se consolidam como as principais características das urnas eletrônicas e dos sistemas eleitorais. Segundo eles, até o momento, não houve nenhum achado relevante identificado no Teste deste ano, realizado na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília (DF).
"Esse processo ocorre com total transparência, e todo achado é trabalhado para sua mitigação antes das eleições, sempre com o objetivo de melhorar o processo eleitoral", afirma Antônio Esio Marcondes Salgado, o Toné, integrante da Comissão Avaliadora e um dos chamados "ninjas" da urna eletrônica, que participou do desenvolvimento do equipamento a partir de 1995. Ele acompanhou todas as etapas de evolução do aparelho, desde transições radicais de software, como a adoção do Linux em 2006, até atualizações mais recentes relacionadas a avanços tecnológicos e a mudanças na legislação eleitoral.
Tecnologista e coordenador de Tecnologia da Informação (TI) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Toné, que também é pesquisador, professor e coordenador do curso de Sistemas de Informação da Universidade de Taubaté (SP), atuou outras vezes em comissões avaliadoras, responsáveis por testar o desenvolvimento, a fabricação e melhorias contínuas das urnas.
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"Os Testes da Urna são fundamentais para transparência, participação social e aprimoramento dos sistemas. O TSE sempre abriu todo o ecossistema de votação para análise de especialistas, grupos acadêmicos e sociedade civil, oferecendo estrutura para que realizem testes profundos. Isso gera dois resultados principais: reforça a confiança pública e multiplica o conhecimento sobre o sistema, já que os participantes se tornam divulgadores do que aprenderam", ressalta Toné.
De acordo com ele, caso algum achado seja verificado durante os testes, a Justiça Eleitoral irá corrigi-lo a tempo das eleições.
Melhorias na infraestrutura e novas ideias
O professor Roberto Samaroni Araújo, da Universidade Federal do Pará (UFPA), conta que participa pela segunda vez dos Testes da Urna como representante da comunidade acadêmica e membro da Comissão Avaliadora. Ele destaca que, de uma edição para outra, houve importantes melhorias na infraestrutura e na organização do ambiente de testes, além da incorporação de sugestões feitas em ciclos anteriores.
Samaroni afirma também que o processo tem atraído cada vez mais jovens interessados não apenas em tentar ataques, mas em compreender a fundo o funcionamento do sistema eleitoral e da urna eletrônica.
Osvaldo Catsumi Imamura, engenheiro eletrônico especializado em segurança e teoria da informação, é também um dos "ninjas" da urna, tendo participado do desenvolvimento e da evolução do equipamento desde a sua criação, com colaboração tanto na parte de software quanto de hardware, bem como no papel de consultor, especialmente em momentos de inovação ou mudanças de rumo no projeto. Ele destaca que, com o crescimento do sistema e da complexidade dos testes, surgiu a necessidade de ampliar a participação externa, o que levou à criação do modelo de teste público a partir de 2009.
Catsumi observa que, a cada edição do Teste da Urna, os investigadores retornam mais motivados para aprofundar o entendimento sobre o sistema e testar novas ideias. No entendimento do engenheiro, a interação prática com a urna permite que conhecimentos teóricos se transformem em contribuições reais. "Descentralizar e ampliar esse espaço [para outras regiões do país] aproximaria ainda mais especialistas e a sociedade do processo, o que enriquece o desenvolvimento contínuo da urna eletrônica", assegura.
Participação da sociedadeRodrigo Coimbra, chefe da Seção de Voto Informatizado do TSE e integrante da Comissão Reguladora do Teste, explica que esta edição bateu recorde de participantes e apresentou grande variedade de planos de ataque, o que refletiu diferentes estratégias e perfis técnicos. Ele salienta a combinação positiva entre jovens participantes, motivados a inovar, e especialistas experientes, que participaram de edições anteriores e conhecem os caminhos mais viáveis de investigação. Coimbra diz que essa mistura enriquece o ambiente de testes e amplia as possibilidades de contribuição.
Segundo ele, o Teste de 2025 transcorreu de forma tranquila, com total liberdade para que os investigadores analisassem os sistemas. "Caso algum grupo identifique uma vulnerabilidade, precisa também apresentar uma possível solução", afirma o servidor, ao ressaltar que a importância do evento reside na transparência e na melhoria contínua do sistema eleitoral. "Abrir os códigos-fonte e o ambiente de testes à sociedade permite que especialistas contribuam diretamente para fortalecer a segurança e a confiabilidade das urnas eletrônicas", completa.
O coordenador de Sistemas Eleitorais do TSE e membro da Comissão Reguladora do Teste, Alberto Cavalcanti, avalia os planos de testes apresentados neste ano como bastante diversificados por abordarem diferentes sistemas, periféricos e componentes da urna eletrônica, o que demonstra o amadurecimento e a ampliação do escopo das investigações.
"Cada plano apresentado, mesmo os que não encontram vulnerabilidades, representa uma oportunidade de aprimoramento, uma vez que muitas propostas trazem ideias e melhorias potenciais para o processo eleitoral. O evento fortalece a transparência, incentiva a participação de indivíduos e instituições acadêmicas e contribui diretamente para a evolução contínua das tecnologias eleitorais", afirma.
Entre os planos executados, está o do grupo liderado pelo pesquisador Leandro de Sousa Oliveira, da Universidade de Brasília (UnB), que participa pela primeira vez do Teste. Ele explica que o grupo é dedicado ao estudo de fuzzing, técnica usada para testar sistemas com entradas inesperadas. O objetivo da equipe é investigar possíveis vulnerabilidades no driver que recebe pacotes USB da urna eletrônica.
"Praticamente todo dispositivo hoje tem uma porta USB, e a urna também tem. Nosso objetivo é explorar os mecanismos de segurança existentes e ver se eles resistem a pacotes malformados [tipo de ataque cibernético]", diz. Ele reconhece, porém, a complexidade desse caminho: "É uma sequência de etapas muito complicada até chegar ao final".
Oliveira avalia positivamente a abertura do TSE para a participação de pesquisadores externos. "Todo o processo aqui é muito bacana. O Tribunal se organiza fornecendo equipamento e mantendo a segurança. O acesso é bastante controlado." Segundo ele, estar em um ambiente real de testes é um ganho acadêmico: "Expor o pesquisador a um cenário crítico como esse é o maior benefício para o nosso trabalho. A gente tem a oportunidade de testar algo que estamos desenvolvendo na pesquisa em um cenário real", afirma.
Como cidadão, ele vê o processo como essencial para reforçar a confiança pública: "É algo imprescindível para dar à sociedade algum respaldo de que [o sistema] passou por uma segunda etapa de verificação. Aqui tem pessoas que participam do Teste há muito tempo, já têm uma bagagem sólida de conhecimento sobre a urna e acabam vendo como ela tem evoluído também. Esse é um dos nossos objetivos: permanecer no Teste também no futuro", finaliza.
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