Saúde ocular: oftalmologista alerta sobre perigos de procedimento para mudar cor dos olhos
Em alta nas últimas semanas, técnica da ceratopigmentação é irreversível e pode causar complicações severas, como infecções e até perda total da visão
Na última quinta-feira (10), Dia da Saúde Ocular, especialistas reforçaram a importância do cuidado com a visão e alertaram para os riscos de procedimentos clínicos realizados sem necessidade real, como a ceratopigmentação – técnica que ganhou fama nas últimas semanas, após influenciadoras brasileiras fazerem uso dela para mudar a cor dos olhos, mesmo sendo contraindicada para fins puramente estéticos pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
Conforme nota publicada pelo Conselho, o método não é considerado comum, é irreversível e "só deve ser empregado dentro de protocolos clínicos bem definidos para fins reconstrutivos de pessoas com deficiência visual permanente".
A técnica utilizada é similar a uma tatuagem, conforme explica o oftalmologista e docente do Idomed, Breno Leão, e consiste na aplicação de pigmentos de cor no estroma, camada intermediária da córnea. Entretanto, é indicada somente para casos de "pacientes com cegueira enquadrados numa condição chamada leucoma, quando a córnea fica totalmente branca", conforme adverte o especialista.
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"O processo é extremamente contra indicado não apenas pelo CBO, mas também pela Anvisa, devido ao risco do paciente desenvolver complicações como ceratite, uveíte, endoftalmite, glaucoma agudo de ângulo fechado dentre outras que levam a infecções graves e até mesmo à cegueira de forma muito rápida", complementa Breno.
Profissionais não habilitados aumentam os perigos
O oftalmologista alerta ainda que há registros de profissionais que não são formados em Medicina realizando a ceratopigmentação, o que agrava os riscos para os que se submetem a ela sem necessidade clínica.
"O risco de fazer esse e outros procedimentos com pessoas não habilitadas é uma maior chance de complicações imediatas e tardias. Além de que, quando surgem tais complicações, eles não têm a capacidade técnica para resolver rapidamente. Muitas vezes, pacientes chegam ao consultório com cegueira ou sequelas irreversíveis para a gente tratar porque foram feitos por alguém que visava somente o resultado estético, sem se preocupar com a anatomia e se havia uma real necessidade fisiológica do paciente", relata o médico.
Para quem, mesmo assim, não quer abrir mão de uma mudança no visual, existe uma forma segura e não permanente, que é fazer uso das lentes de contato coloridas. "Estas têm tanto a finalidade puramente estética, quanto a terapêutica, porque podemos colocar grau nas lentes, o que substitui também o uso de óculos", orienta o oftalmologista.
Sinais de alerta
Em nota, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia informa que "pacientes que já utilizaram a técnica relatam dificuldade de enxergar, dor nos olhos, ardência, sensação de areia, aversão à luz e lacrimejamento persistentes". Segundo o oftalmologista Breno Leão, os primeiros sinais de que algo grave está acontecendo com o olho manipulado após um procedimento como a ceratopigmentação são: dor ocular de intensidade moderada a forte, lacrimejamento e vermelhidão.
"Outro sinal é a alteração da córnea com o surgimento de ceratite (inflamação) e mesmo o edema (inchaço) de córnea. Também pode acontecer a perda da função do endotélio corneano, com formação de micro bolhas epiteliais, e em casos mais graves, a reação de câmara anterior com formação de pus dentro do olho e embaçamento visual grave", enumera o médico.
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