BC mantém juros em 13,75%, rebate Lula e não descarta nova alta

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BC mantém juros em 13,75%, rebate Lula e não descarta nova alta

Essa é a quinta vez consecutiva que os juros são mantidos no atual patamar

Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central não cedeu à pressão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para redução dos juros e manteve nesta quarta-feira (22) a taxa básica (Selic) em 13,75% ao ano.

Sem adotar um tom mais brando, como esperavam alguns analistas, a autoridade monetária também não deu sinais de que pode antecipar o corte da taxa -indicando inclusive a possibilidade de voltar a elevá-la.

Essa é a quinta vez consecutiva -a segunda desde que Lula tomou posse- que os juros são mantidos no atual patamar, o maior desde 2016.

No comunicado, o colegiado do BC enfatizou a "deterioração adicional" das expectativas de inflação.

"O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado", disse o Copom. Leia a íntegra do comunicado ao final da reportagem.

O colegiado voltou a dizer que se manterá vigilante, "avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação".

"O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos", acrescentou.

Diante de incertezas fiscais e de ruídos gerados por falas de Lula e do primeiro escalão do governo -incomodados com o alto patamar da Selic e seus efeitos sobre o crescimento da economia brasileira-, as expectativas de inflação dos analistas do mercado para prazos mais longos pioraram.

Segundo o boletim Focus, divulgado pelo BC na última segunda-feira (20), a projeção para o IPCA (índice oficial de inflação do país) de 2024 avançou de 4,02% para 4,11% -já distante do centro da meta (3%). Para 2025, a estimativa dos economistas saiu de 3,8% para 3,9% e, para 2026, saltou de 3,79% para 4%.

A decisão de manter a Selic em 13,75% veio em linha com a projeção consensual do mercado financeiro de que os juros ficariam inalterados novamente. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que essa era a expectativa unânime entre os analistas consultados.

A autoridade monetária ponderou que, por um lado, a recente reoneração dos tributos sobre combustíveis reduziu a incerteza quanto ao resultado das contas públicas curto prazo.

No entanto, por outro, a conjuntura demanda maior atenção na sua atuação, mencionando a volatilidade nos mercados financeiros e a piora nas expectativas de inflação, sobretudo para prazos mais longos.

Outro ponto que o BC chama a atenção é a incerteza sobre a nova regra fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública. Nesta terça-feira (21), Lula afirmou que o anúncio do marco fiscal ficará para abril, quando voltar de viagem à China.

Na direção contrária, o colegiado menciona a possibilidade de uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada, em função de condições adversas no sistema financeiro global, e uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

Desde o último encontro, os temores com uma crise de crédito se intensificaram diante de turbulências provocadas no ambiente internacional pela falência do SVB (Silicon Valley Bank), nos EUA, e pela crise do Credit Suisse, na Europa, em um cenário de desaceleração da economia doméstica com uma política de juros altos.

COPOM ELEVA PROJEÇÕES DE INFLAÇÃO

No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação para este ano subiram de 5,6% para 5,8%. Para 2024, o colegiado elevou a previsão de 3,4% para 3,6%. No horizonte móvel, vê a projeção de inflação acumulada em 12 meses no terceiro trimestre de 2024 em 3,8%.

O BC voltou a incluir um cenário alternativo, no qual a Selic é mantida constante ao longo de todo o seu período de atuação, que inclui os anos de 2023 e, em grau maior, de 2024, com projeções de inflação de 5,7% para este ano, 3,3% para o terceiro trimestre de 2024 e 3% para o fim do ano que vem. "O comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual", afirmou.

Com 2024 na mira, o colegiado do BC volta a se reunir nos dias 2 e 3 de maio para recalibrar o patamar da taxa básica.

O ciclo de alta de juros foi interrompido em setembro de 2022 pelo Copom depois de aplicar o mais agressivo choque desde a adoção do sistema de metas para inflação, em 1999.

Foram 12 aumentos consecutivos entre março de 2021 e agosto do ano passado, com elevação de 11,75 pontos percentuais. A taxa básica saiu de seu piso histórico (2%) até atingir o nível atual de juros. 

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