No coração de Salvador, durante o Festival Negritudes Globo, Everton Ribeiro falou com a sobriedade de quem entendeu o peso da própria voz. Convidado do painel Ubuntu Esporte Clube, o camisa 10 do Bahia enalteceu Vinicius Júnior como farol da luta antirracista no futebol contemporâneo e não fugiu de temas espinhosos como saúde mental e privilégios raciais. Aos 36 anos, com passagens marcantes por Cruzeiro, Flamengo e Seleção, o meia exaltou o engajamento do Tricolor baiano em causas sociais — "um clube que não corre do jogo difícil", como definiu.

Taticamente, Everton sempre foi jogador de entrelinhas, e sua fala reflete isso: articula com clareza, mas insinua reflexões que ultrapassam o campo. Ao citar que "vivia numa bolha", ele desarma a retórica da neutralidade no esporte e se posiciona como aliado em lutas históricas. Ao relatar o impacto de sessões com psicóloga no Flamengo, revela que o rendimento não se mede só por estatística. Em campo, ele continua cerebral; fora dele, mostrou que cabeça boa também se treina — e precisa de ambiente propício para florescer.

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O Bahia de 2025 colhe os frutos de um projeto identitário que mira mais que títulos. Com o respaldo da SAF, da torcida e de uma comunicação que sabe onde pisa, o clube se tornou referência em posicionamento institucional no Brasil. Everton, por sua vez, veste essa camisa com orgulho e oferece um exemplo raro: um atleta que enxerga a própria influência como ferramenta de mudança. É simbólico que isso parta da Bahia, terra de revoltas libertárias e cultura afrobrasileira pulsante.

De tudo, o mais valioso talvez seja a disposição do jogador em ouvir — algo raro no meio esportivo atual, marcado por vaidades e blindagens. Ao falar de escuta, de "abrir a cabeça" com humildade, Everton Ribeiro lança um desafio a seus pares. Que outros atletas, sobretudo brancos e protagonistas, entendam que não basta calçar chuteira de marca ou postar hashtag no Instagram. Como se diz por aqui, "quem tem voz, que fale — mas fale com propósito".