Internações por acidente de trânsito crescem 73% em dez anos na Bahia
Maio Amarelo destaca impacto de sinistros evitáveis na rede pública de saúde
As internações e atendimentos de emergência por acidentes de trânsito na Bahia cresceram 73% nos últimos 10 anos, conforme dados do Sistema de Informação Hospitalar (SIH) do Sistema Único de Saúde (SUS).
O aumento segue uma tendência nacional preocupante: em 2024, a cada dois minutos uma pessoa deu entrada na emergência do SUS no país após trauma em sinistro de trânsito.
Esses acidentes, muitas vezes considerados evitáveis, causam sobrecarga no SUS e altos custos para a rede pública de saúde.
Foram 1,8 milhões de internações hospitalares no SUS no país por conta de acidentes de trânsito nos últimos 10 anos, que geraram R$3,8 bilhões de despesas diretas para Sistema Único de Saúde, segundo levantamento feito pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) e Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede).
Neste maio amarelo, mês dedicado à conscientização para redução dessas ocorrências, esse levantamento vem para destacar o impacto desses acidentes no país e conscientizar a população sobre segurança no trânsito.
Acidentes evitáveis
A maior parte dessas vítimas ao longo desses 10 anos estavam em motocicletas no momento do acidente (mais de 60%). No Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), 80% dos pacientes atendidos em 2024 são por conta de traumas no trânsito e desse montante cerca de 76,34% das vítimas estavam sobre motos, segundo a diretora geral da instituição, Cristiana França.
Ela reforça ainda que a maior parte desse público é composta por homens (77%), em idade produtiva (de 34 a 45 anos). O tratamento para muitas dessas ocorrências envolve altos investimentos, como o uso de órteses, próteses e materiais especiais (OPME), que no Clériston Andrade geraram custo de R$5 milhões no ano de 2024.
"É um custo muito alto para a população, além dos atestados e o seguro obrigatório do trânsito. Então vemos que hoje a situação que temos é muito grave", diz Cristiana França.
Cerca de 40% das internações no Hospital Ortopédico do Estado da Bahia (HOE) acontecem devido a acidentes de trânsito envolvendo motos, de acordo com o diretor da instituição, Roger Alencar. "São pacientes jovens, a maior parte homens, ao redor dos 30 anos, e muitos entregadores informais de comida por aplicativo ou transporte não regularizado, mas que encontram na informalidade uma forma de levar dinheiro pra casa. Quando sofrem um acidente é uma repercussão muito grande, porque além do sofrimento, tem uma insegurança pra família", comenta.
Diante deste cenário do estado e do país, estão sendo organizadas pelo Clériston Andrade ações de conscientização no trânsito para o maio amarelo, com parceria de outras organizações, para combater esse volume de acidentes que pode ser evitado.
"Sempre proponho fazermos um trabalho não só de atendimento, mas também de conscientização e prevenção", diz Cristiana. Outdoors com depoimentos de pessoas que perderam familiares em acidentes estão no planejamento.
Bahia lidera casos
Além dos 73% de crescimento de entradas na emergência na Bahia, que representam um salto de 8.852 ocorrências em 2015 para 15.320 em 2024, no país o aumento foi de 44% neste mesmo período, quando saiu de 157.602 internações ou atendimentos na emergência em 2015 para 227.656 em 2024.
O Nordeste é a segunda região do país com maior volume e a Bahia lidera no grupo regional.
O autônomo Wellington Salles, de 28 anos, é mais uma vítima de traumas no trânsito, enquanto pilotava moto. Após uma colisão de frente com um carro, em que o outro motorista não parou para prestar socorro, Wellington teve fratura exposta e hoje está internado no Hospital Ortopédico do Estado da Bahia (HOE). Já com cirurgia realizada e previsão de saída, ele comenta o episódio. "Estava de capacete graças a Deus. O pior já passou e agora é esperar a recuperação", fala.
A ampla utilização de motos no país e a quantidade de acidentes graves envolvendo o veículo precisa ser analisada numa perspectiva geral, segundo o presidente da Associação de Hospitais e Serviços de Saúde do Estado da Bahia (AHSEB), Mauro Adan. "Temos hoje um problema no financiamento da saúde e percebemos um contrassenso com a isenção para produção de motocicletas. A moto tem um aspecto social para facilitar a mobilidade de muitos brasileiros, mas há também um custo para saúde e previdência com esses acidentes. Além de um custo, temos quantas mortes em função disso? Quantas famílias enlutadas? É uma questão sobre o que é importante pro país", pontua.
A Tarde
Comentários:
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.