Desde que chegou ao Flamengo em janeiro de 2024, Nicolás De la Cruz vive uma relação irregular com o campo. Dos 112 jogos disputados pelo clube até julho de 2025, o uruguaio esteve fora de 51 — sendo 26 por lesão ou controle de carga. Contratado por mais de R$ 100 milhões, o meia soma seis idas ao departamento médico em menos de dois anos e, agora, está afastado para um "trabalho especializado" com a equipe médica, após nova lesão no joelho. O caso ganhou contornos políticos com a divulgação de críticas internas vindas do próprio chefe do departamento médico, José Luiz Runco.

Do ponto de vista técnico, o Flamengo vive um impasse delicado. De la Cruz é um jogador de alta rotação, leitura tática refinada e impacto coletivo evidente — quando está saudável. Mas a realidade é que seu corpo não tem sustentado a intensidade do calendário. O histórico clínico aponta para sinovite crônica e sobrecarga no joelho oposto, o que torna qualquer sequência de jogos um desafio. Sua maior série em 2025 foi de apenas oito partidas. A comissão técnica tenta encontrar um ponto de equilíbrio, mas há sinais de que o desgaste virou um adversário permanente.

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É preciso, neste momento, mais do que cautela: é hora de autocrítica. A contratação de um atleta com lesão crônica prévia, sem estratégia clara de manejo, expõe fragilidades em um clube que tem um dos orçamentos mais altos do continente. A declaração de Runco, por mais imprudente que tenha sido, revela uma desarticulação entre departamentos que já deveria ter sido sanada. Não se trata de crucificar o atleta, e sim de entender por que se investiu tanto em um ativo de risco, sem blindagem interna e sem plano de mitigação efetivo.

O Flamengo, que briga pelo Brasileirão e tem Libertadores pela frente, não pode mais tratar esse assunto como uma nuvem passageira. Jogador de talento, De la Cruz precisa ser preservado com profissionalismo, mas a instituição exige transparência, gestão integrada e decisões firmes. Na Bahia, a gente costuma dizer que "quando o corpo fala, a cabeça precisa escutar". O Flamengo escutou tarde — agora, precisa decidir se encara a realidade ou insiste em um projeto que, por ora, caminha mancando.