Fortaleza escolhe retrocesso
Acesso histórico não impediu decisão que expõe prioridades do clube
O Fortaleza decidiu encerrar o departamento de futebol feminino em 2026, mesmo após a equipe conquistar o acesso inédito à Série A1 do Brasileiro. A justificativa oficial foi a restrição orçamentária provocada pelo rebaixamento do time masculino à Série B. O efeito prático foi imediato e duro, atletas dispensadas, projeto interrompido e um feito esportivo tratado como irrelevante.
A escolha revela muito mais do que um ajuste financeiro. O futebol feminino do clube entregou resultado, regularidade e títulos, como o Campeonato Cearense e a Copa Maria Bonita, além de uma campanha sólida na Série A2. Liderou seu grupo, venceu fora de casa no mata mata e confirmou o acesso com organização e desempenho. Ainda assim, pagou a conta de uma gestão que optou por proteger exclusivamente o masculino, sinal claro de hierarquia interna e ausência de convicção esportiva.
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O impacto extrapola o Pici. Pelo regulamento da CBF, o Fortaleza perde a vaga conquistada na elite, que deve ser herdada pelo Vitória, enquanto o Pérolas Negras assume espaço na A2. Caso o clube tente retomar o futebol feminino em 2027, terá de reiniciar o caminho nas divisões inferiores. No âmbito continental, a decisão só não gera sanção imediata porque o time masculino ficou sem calendário internacional, o que escancara o caráter circunstancial da manutenção da modalidade.
O episódio sintetiza um problema estrutural do futebol brasileiro. O mérito esportivo feminino segue frágil diante de decisões administrativas. O discurso de responsabilidade financeira não se sustenta quando o setor mais eficiente é o primeiro a ser descartado. Ao optar por esse caminho, o Fortaleza não apenas desmonta um projeto vencedor, como também envia uma mensagem inequívoca. Para o clube, o futebol feminino ainda é acessório. E enquanto essa lógica prevalecer, o avanço da modalidade seguirá sempre sob risco.
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