Avanço em campo, atraso fora
Vitórias históricas, títulos e audiência recorde expuseram contradições profundas da modalidade
O futebol feminino brasileiro fechou 2025 como um dos anos mais marcantes de sua história recente. Dentro de campo, houve títulos relevantes, triunfos simbólicos sobre potências globais e crescimento consistente de público. Fora dele, o mesmo período escancarou fragilidades estruturais, projetos instáveis e clubes que ainda tratam a modalidade como exigência burocrática, não como escolha esportiva.
A Seleção Brasileira foi o principal símbolo do avanço competitivo. O nono título da Copa América, conquistado nos pênaltis contra a Colômbia após um empate eletrizante, consolidou um ciclo de desempenho sólido. As vitórias sobre Inglaterra, Itália, Japão, Estados Unidos e Portugal não foram episódicas. Indicaram evolução tática, maior controle emocional e competitividade fora do eixo sul americano. O sexto lugar no ranking da FIFA confirmou a leitura, resultado direto da regularidade e da organização implementadas por Arthur Elias.
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No cenário doméstico, o Corinthians manteve a hegemonia esportiva, empilhando títulos nacionais e continentais. Mais relevante, porém, foi o crescimento do interesse do público. Audiências em alta na TV pública, recordes de presença nos estádios e uma base estimada em dezenas de milhões de torcedores apontam para uma modalidade que deixou de ser nicho. O consumo já não se explica apenas pela novidade, mas pela qualidade do produto entregue.
O mercado internacional reforçou essa valorização. Transferências milionárias de atletas como Amanda Gutierres, Isa Haas e Mariza mostram que o Brasil segue como celeiro técnico cobiçado por ligas mais estruturadas. O problema é que esse movimento também evidencia a distância econômica e organizacional entre o futebol nacional e os centros que hoje absorvem seu talento.
A divulgação do calendário de 2026 aprofundou o debate. A ampliação da Série A1, o retorno da Copa do Brasil e a redução de períodos de inatividade representam avanços claros. Ao mesmo tempo, impõem um teste de maturidade. Mais jogos exigem elencos, planejamento e condições de trabalho que ainda não são realidade para muitos clubes. A execução, não o anúncio, será o verdadeiro termômetro.
É justamente aí que o discurso otimista encontra seus limites. Casos como o encerramento do futebol feminino no Fortaleza após acesso esportivo, a precariedade estrutural denunciada no Flamengo e a greve por salários atrasados no Avaí Kindermann revelam uma verdade incômoda. O mérito em campo ainda não assegura continuidade. Projetos seguem vulneráveis a decisões administrativas, culturais e financeiras.
O futebol feminino brasileiro terminou 2025 maior, mais visível e mais competitivo. Mas também mais exposto. O crescimento acelerado evidenciou desigualdades que não podem mais ser tratadas como exceção. Se o próximo ciclo quiser transformar expansão em solidez, será necessário rigor institucional, fiscalização efetiva e compromisso real dos clubes. Sem isso, o risco é avançar em ritmo alto sobre bases frágeis. E a conta, como sempre, recair sobre quem entra em campo.
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