Em um ano marcado por turbulências esportivas e polarizações fora de campo, um episódio vindo do sertão potiguar resgata a essência humanizadora do futebol. Sensibilizado por um apelo nas redes sociais, o atacante Richarlison, do Tottenham e da seleção brasileira, custeou a reforma completa da casa de Leonardo Querino da Silva, o Lalau, influenciador de Serra do Mel, no interior do Rio Grande do Norte. O imóvel, antes marcado por rachaduras, infiltrações e ausência de condições mínimas, agora exibe cerâmica, acabamento e mobília. Para a família, a mudança não é apenas estrutural: representa dignidade e segurança, sobretudo para a filha recém-nascida, que chegou ao mundo de forma prematura.

A escolha de Richarlison não foi impensada. Desde 2024, o jogador interagia com conteúdos produzidos por Lalau, cuja criatividade e carisma transformaram um campo de terra batida em palco para desafios de futebol seguidos por mais de 100 mil pessoas. Ao se deparar com o pedido por ajuda para construir um quarto, o atacante decidiu ampliar o escopo, assumindo integralmente a reforma. Na prática, o ato vai além da doação material: reforça a conexão entre atletas de elite e a base popular que molda sua trajetória — lembrança viva de que o futebol, em essência, ainda pertence ao povo.

📱 FEIRA DE SANTANA NOTÍCIAS 24H: Faça parte do canal do Folha do Estado no WhatsApp

O impacto ultrapassa os muros da nova casa. Em Serra do Mel, a entrega da obra virou celebração coletiva, com vizinhos acompanhando desde a chegada da primeira carga de areia até o acabamento final. Para a comunidade, o gesto funciona como símbolo de reconhecimento e visibilidade, potencializando o alcance das redes de Lalau e alimentando um senso de pertencimento raro em tempos de consumo rápido de conteúdo. É também um contraponto positivo a um cenário em que figuras públicas frequentemente se afastam das realidades periféricas de onde surgiram.

O mérito de Richarlison está justamente na coerência entre discurso e ação. Muitos atletas falam sobre "retribuir" à sociedade; poucos o fazem de forma direta e transparente. Ao investir em uma causa sem retorno midiático calculado, o atacante demonstra que a solidariedade não precisa de holofotes para ter valor. Cabe à imprensa e às instituições esportivas compreender que exemplos assim merecem registro não como curiosidade, mas como referência. No fim das contas, em um país onde a bola nem sempre rola para todos, atitudes concretas — como essa — são o verdadeiro gol de placa.