Estudo publicado no fim de maio pela revista científica Plos One revela que 40% dos trabalhadores das praias de Salvador sofreram acidentes de trabalho no período de um ano. O projeto de pesquisa e análise de dados conjunto do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal da Bahia (Ufba) mapeou as condições de trabalho nas praias de Salvador, revelando alta prevalência de acidentes entre os trabalhadores. A iniciativa coleta dados para embasar políticas públicas e ações do MPT na defesa dos direitos trabalhistas. O trabalho desenvolvido pelos pesquisadores coordenados pelo professor Cleber Cremonese conta com recursos destinados pelo MPT, por meio do procurador Ilan Fonseca.

Os dados coletados pelo projeto serão utilizados para propor medidas que garantam melhores condições de trabalho e proteção social para os trabalhadores das praias de Salvador. O MPT, com o apoio do ISC/Ufba, busca promover a formalização dos empregos, a redução das jornadas e a implementação de medidas de segurança e treinamento para reduzir a vulnerabilidade social desses trabalhadores e garantir o acesso a direitos básicos como licença médica e aposentadoria.

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O procurador Ilan Fonseca pretende levar os resultados desse estudo para um debate com o município de Salvador em busca de ações efetivas que possam garantir, a curto e médio prazos, condições mais dignas de trabalho. "A ideia agora é que o MPT e a Ufba abram um caminho de diálogo junto à Prefeitura Municipal de Salvador para a elaboração de políticas públicas específicas para essa categoria de trabalhadores com foco na saúde deles, até mesmo diante do fato de que Salvador é uma capital turística e os turistas que aqui chegam são acolhidos nas praias por essa classe de trabalhadores", afirmou.

Resultados - A pesquisa foi realizada em cinco áreas da orla de Salvador — Amaralina, Itapuã, Jardim de Alah, Piatã e Ribeira — entre novembro de 2023 e março de 2024. Foram entrevistados 579 trabalhadores. As principais causas apontadas para o alto índice de acidentes de trabalho são a informalidade, as longas jornadas, (de mais de oito horas diárias para 70% dos trabalhadores) e a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs), com 65% dos entrevistados afirmando que não usam qualquer tipo de proteção.

Consideradas a principal causa de acidentes de trabalho nas praias, as perfurações — que geralmente atingem os membros inferiores desses trabalhadores — estão associadas à rotina de vendedores ambulantes e garçons, que precisam circular pela areia para atender os clientes. "Um fator-chave que contribui para esse padrão de acidentes de trânsito é o consumo de queijo coalho. Esses espetos afiados são frequentemente descartados de forma descuidada, representando um risco considerável de lesões por perfuração para os trabalhadores que transitam pela praia durante suas atividades diárias", aponta o professor Cleber Cremonese.

O estudo também revelou que jovens e mulheres são os mais vulneráveis. Jovens apresentam o dobro de risco de acidentes e as mulheres sofrem com uma incidência cinco vezes maior de queimaduras, frequentemente associadas à preparação de alimentos em condições precárias, como frituras. Além disso, a pesquisa apontou para baixos níveis de remuneração e condições precárias de trabalho, com impactos na saúde dos trabalhadores, como infecções de pele, LER/Dort e perda auditiva.