Apenas um terço da população aprova gestão do prefeito Bruno Reis

PolíticaSalvador

Apenas um terço da população aprova gestão do prefeito Bruno Reis

Cerca de 800 pessoas foram entrevistadas entre os dias 9 e 12 de setembro 

Crédito: Divulgação

Mais da metade da população soteropolitana reprova a gestão da Prefeitura de Salvador. É o que retrata a primeira pesquisa AtlasIntel/ATARDE sobre as políticas públicas e o nível de satisfação da população da capital baiana com o executivo municipal.

A pesquisa foi realizada por recrutamento digital aleatório, com 800 entrevistados de sexta-feira (9) até segunda-feira (12). Em números gerais, 53,6% dos soteropolitanos não aprovam o trabalho do prefeito Bruno Reis, contra 33,9% que aprovam. O restante (12,5%) não soube responder.

Apesar da percepção negativa da gestão, a avaliação pessoal do prefeito é um pouco melhor. Entre os entrevistados, 48,2% consideram o desempenho de Bruno regular, com 27,9% de ruim ou péssimo, e 20,3% de ótimo ou bom.

Para Andrei Roman, cientista político e executivo-chefe do AtlasIntel, isso se deve a um 'recall' de um forte trabalho de comunicação realizado nas gestões anteriores, além do pouco tempo de exposição do prefeito, que exerce o primeiro mandato como chefe do executivo e, portanto, não acumula desgaste.

"A percepção negativa não está tão nitidamente cristalizada", avalia Roman. Segundo ele, a avaliação regular de quase metade dos entrevistados é um voto de confiança que reflete a esperança de melhora, embora os índices avaliados não reflitam isso. "A população não migra diretamente para ruim ou péssimo", interpreta o cientista político.

Mas, quando vista de forma segmentada, a gestão da Prefeitura de Salvador é reprovada de forma esmagadora. De 16 itens pesquisados, a administração do prefeito Bruno Reis foi mal avaliada em 15, sendo 12 com mais de 50% de avaliação ruim ou péssima.

Entre os cinco quesitos de maior reprovação, destacam-se o combate à pobreza, citado por 74% dos entrevistados, assistência à população de rua e atuação da Guarda Municipal, ambas com 65% de ruim ou péssimo. Corrupção (72%) e facilidade para o empreendedor (68%), ocupam a segunda e terceira colocações, respectivamente.

Para Andrei, a percepção da pobreza como principal desafio da gestão reflete uma condição generalizada, que atravessa todas as esferas de poder, mas é diretamente associada às condições de vida na cidade.

Prova disso, são os índices de reprovação das políticas voltadas à situação de rua e a atuação da Guarda Municipal. Nas comunidades mais pobres, a miséria é uma constante e as forças de segurança, não raro, entram nessas localidades cometendo excessos.

As lacunas deixadas pelo poder público se mostram ainda mais claras quando são avaliadas as políticas e investimentos em áreas primordiais, como saúde, educação e moradia. Para 55% dos entrevistados, a oferta de creches e o ensino nas escolas da rede municipal é ruim ou péssimo. Quase o mesmo índice apurado na avaliação dos serviços de saúde (56%).

Quando o assunto é moradia, 64% dos que responderam à pesquisa demonstram toda a insatisfação com a falta de política de habitação popular efetiva. "A percepção geral é que a Prefeitura não prioriza os mais pobres e sim os mais privilegiados", traduz Andrei Roman.

Prioridade que se observa nos quesitos melhor avaliados. Apenas um deles recebeu aprovação maior que a reprovação. A iluminação pública é considerada ótima ou boa por 38% da população. Áreas verdes, lazer e praias (35%), limpeza urbana (31%), revitalização do centro (24%) e manutenção de ruas e calçadas (22%) são as outras áreas mais bem avaliadas.

Qualidade de vida

Apesar de bem distribuída, a desaprovação da gestão municipal é maior em alguns estratos evidenciados pela pesquisa AtlasIntel/ATARDE. Entre os que não aprovam a gestão, destacam-se 63,1% dos que ganham até R$ 2 mil, 54,5% de R$ 2 a 3 mil e 49,6% de quem ganha entre R$ 3 e 5 mil. Quanto maior a renda, menor a insatisfação.

Em sua maioria, os que desaprovam são homens (62,5%) que possuem apenas o ensino fundamental (63,8%) e jovens na faixa etária de 25 a 34 anos (64,1%).

Quando se trata de qualidade de vida e da expectativa futura dos entrevistados, tem-se quase uma equivalência entre aqueles que percebem piora (40,8%) ou piora (35,1%). Mas, nessa avaliação o pessimismo também é maior entre os mais jovens, apesar de bem diluído entre as diversas faixas de renda.

O índice de pessimismo é praticamente igual nas faixas etárias de 16 a 24 anos (56,9%) e 35 a 44 (57%). De 25 a 34 anos, 38,1% acreditam que a vida vai piorar. Seja homem (40%) ou mulher (41,4%), com ensino fundamental (44%), médio (38,3%) ou superior (40,8%), a expectativa também é de piora no quadro atual.

Entre quem ganha de R$ 3 a 5 mil, 47,4% não acreditam em melhora, seguidos de quem ganha até R$ 2 mil (43,7%) e mais de R$ 10 mil (40,9%). Nesse último grupo também estão os mais otimistas, com 55,7% acreditando em tempos melhores. Os que ganham de R$ 5 a 10 mil também acreditam na melhora da qualidade de vida (41,5%).

Cidade para poucos

A percepção negativa da população de Salvador com relação à gestão da Prefeitura está diretamente associada à desigualdade e à diferença de investimentos entre as áreas mais nobres e as menos favorecidas da cidade.

Os índices de aprovação demonstram isso de forma inversamente proporcional. Enquanto 14,1% dos entrevistados com ensino fundamental aprovam a gestão da cidade, entre os que têm quem tem ensino médio (40,4%) e superior (40%) a aprovação aumenta.

Não é coincidência que os maiores índices de aprovação se repitam entre os que ganham de R$ 3 a 5 mil (39,4%) e até aumentem à medida que a renda é maior. Dos que ganham de R$ 5 a 10 mil, 57,4% estão satisfeitos com a Prefeitura quando a renda é superior a R$ 10 mil mensais, a aprovação fica em 53,7%.

A satisfação é proporcional à qualidade de vida e ao acesso destes grupos a uma boa educação e, consequentemente, melhores colocações no mercado. Não é necessário dizer que a localização desse público coincide com os CEP's mais valorizados da capital baiana, o que, de novo, se traduz em aprovação.

"A população que mora em bairros mais privilegiados tem correlação com os investimentos da Prefeitura onde ela é melhor avaliada", diz Andrei Roman. Por outro lado, onde faltam investimentos, a avaliação é pior.

Os maiores índices de aprovação em Iluminação, manutenção de ruas e calçadas, praias, lazer e áreas verdes, não por acaso, estão concentrados nos bairros nobres. Apesar disso, a Prefeitura consegue desagradar em vários estratos distintos.

No quesito iluminação, o índice de ruim e péssimo é de 30,5% entre os que ganham menos de R$ 2 mil e 30,1% entre os que ganham de R$ 3 a 5 mil. Percentual que alcança 39,7% quando o universo é dos que ganham acima de R$ 10 mil.

Já a limpeza urbana consegue degradar de forma uniforme. Dos que ganham até R$ 2 mil (42,3%), de R$ 2 a 3 mil (41,2%), de R$ 3 a 5 mil (40,1%) e 54,1% de reprovação de R$ 5 a 10 mil. Apenas entre quem ganha mais de R$ 10 mil a situação se inverte: 44,3% de aprovação.

Segundo Andrei, os números comprovam a imensa desigualdade nos serviços prestados pelo município. "O que a pesquisa está dizendo é que a Prefeitura está muito focada em investir em áreas turísticas e centrais".

Ambiente de negócios, corrupção e transparência

Um dos quesitos que chamou a atenção na pesquisa AtlasIntel/ATARDE foi a falta de facilidades para quem quer empreender, citada por 68% dos entrevistados. Segundo Andrei Roman, essa percepção é fruto de um ambiente econômico desfavorável em todas as esferas.

"Por mais que a desburocratização seja uma questão assumida por gestores do país inteiro, a percepção do clima na economia é ruim na cidade", diz o cientista político. Outros quesitos que mereceram notas bem negativas foram a corrupção (72%) e transparência nas contas públicas (64%).

Analisados de forma transversal, são índices que conversam entre si. Para a maioria da população, especialmente os de mais baixa renda, o desconhecimento da aplicação dos recursos do município eleva a percepção de má versação e compromete o incentivo aos novos empreendimentos.

Entre quem ganha até R$ 2 mil, 78,6% consideram o combate à corrupção ruim ou péssimo. Nesse mesmo segmento, 79,3% condenam a ausência de facilidades para empreender e 66,4% estão insatisfeitos com a transparência das contas públicas.

A Tarde Online.

 

Comentários:

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Já Registrado? Acesse sua conta
Visitante
Domingo, 28 Abril 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.jornalfolhadoestado.com/