Assembleia de Deus em São Paulo quer punir membros de esquerda
A igreja evangélica decidiu promover uma caça aos fiéis de esquerda
Após receber Jair Bolsonaro (PL), um dos braços mais fortes da Assembleia de Deus, a maior das denominações evangélicas brasileiras, decidiu nesta terça-feira (4) punir os membros que "defenderem pautas de esquerda dentro da cosmovisão marxista".
Aqueles que "comprovadamente já não mais aceitam a palavra de Deus" e adotam "filosofia em choque com princípios cristãos", afirma um integrante da mesa diretora, "poderão ser representados no conselho de ética e disciplina para a aplicação de medidas disciplinares".
A reportagem teve acesso à leitura desta carta, redigida na 49º Assembleia-Geral Ordinária da Confradesp (Convenção Fraternal das Assembleias de Deus do Estado de São Paulo). É nela que se enfileiram temas que incomodam a direita conservadora e são associados, muitas vezes indevidamente, à campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Houve ataques diretos ao ex-presidente na reunião. No entendimento da Confradesp, a anulação de suas condenações na Lava Jato não teria validade porque, para tanto, seria preciso ter ausência de crimes e de provas, por exemplo. O entendimento é que o caso contra Lula, abolido por suspeição do ex-juiz Sergio Moro, não o inocenta.
Também pesaria contra o petista o "apoio expresso" de "religiões demonistas", inclusive "seitas satanistas foram expressamente às redes dar apoio e ainda fazer bravatas contra o povo cristão".
Nos últimos dias, aliados de Bolsonaro fizeram publicações tentando associar Lula ao satanismo. O gatilho veio de um influencer autointitulado satanista que teria previsto a vitória do petista no primeiro turno. A equipe lulista pede ao Tribunal Superior Eleitoral que remova vídeos com essa temática, classificados como fake news -o autor da gravação teria se posicionado contra o ex-presidente antes.
O texto lido no encontro evangélico pede que os pastores levem em conta "o posicionamento da esquerda, que defende uma cosmovisão contrária ao Evangelho e ao preceitos éticos e morais da Assembleia de Deus paulista, "considerando que referida cosmovisão defende pautas favoráveis à desconstrução da família tradicional, à legalização total do aborto, à erotização das crianças, à ideologia de gênero, à liberação das drogas ilícitas, à relativização da Bíblia Sagrada, à censura à liberdade religiosa e ao aparelhamento da educação com a ideologia marxista".
Algumas dessas pautas são atribuídas à esquerda de forma vaga, como "erotização das crianças", como se houvesse uma campanha progressista para algo do gênero. Outro ponto enganoso: embora correntes minoritárias advoguem por uma descriminalização mais ampla de aborto e drogas, isso não faz parte do programa lulista nem foi posto em prática nos governos do PT.
A carta vincula o "comunismo ateu e materialista face" à esquerda brasileira e fala em incompatibilidade com "a doutrina bíblica praticada pelas Assembleias de Deus".
Precedeu a leitura um aviso para que os presentes desligassem os celulares, pois as imagens eram internas. O deputado Paulo Freire Costa (PL-SP), outro filho do patriarca José Wellington, falou em expulsar quem estivesse gravando, segundo relatos obtidos pela reportagem.
A ameaça se insere num contexto maior de acossamento a evangélicos simpáticos à esquerda, o que tem levado ao expurgo de pastores em algumas igrejas.
A Confradesp é liderada por José Wellington Bezerra da Costa, um dos pastores mais importantes do Brasil, e seu filho José Wellington Costa Júnior -atual presidente da CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus do Brasil), a maior instituição assembleiana do país.
Os últimos dados oficiais vêm do Censo 2010: lá consta que a igreja -que contempla infinitas ramificações dentro de si- somava 12,3 milhões de fiéis, aumento de quase 50% em relação ao último levantamento do IBGE, de 2000.
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