Mães denunciam falta de profissionais e demora nas marcações do Caps Infantil em Feira
Elas denunciam problemas no atendimento e falta de infraestrutura no local.
No último dia 2 de setembro, a Secretaria de Saúde de Feira de Santana, foi destaque no 11º Congresso do COSEMS/BA com a conquista do Prêmio Santa Dulce dos Pobres. A honraria reconheceu o trabalho "Promoção da Saúde Mental dos Trabalhadores de Saúde: Relato de Experiência em um CAPS Infantil".
De acordo com o órgão, o CAPS Infantil vem se destacando na rede de saúde mental do município, desenvolvendo práticas de cuidado humanizado e estratégias de promoção do bem-estar.No entanto, mães que têm filhos neurodivergentes, relataram, em entrevista ao Folha do Estado, diversas dificuldades que vêm enfrentando para conseguir acompanhamento no Caps Infantil, localizado no bairro Olhos D'água. Além disso, elas denunciam problemas no atendimento e falta de infraestrutura no local.
Daiane Almeida de Carvalho, mãe de uma criança autista nível 3 de suporte, contou ao Folha sobre as idas e vindas para conseguir atendimento no Caps Infantil.
Em fevereiro de 2024, procurei o Caps infantil, e voltei para casa sem sucesso. Depois voltei lá novamente com guias médicas, e elas disseram que minha filha tinha que fazer fono e psicóloga, e me deram o encaminhamento para o Cer-Tea, porém lá disseram que com a idade dela não pegavam ainda. Voltei para o Caps e marcaram o primeiro atendimento para abril de 2025, mas para isso acontecer tive que recorrer à Defensoria Pública, entrar com uma ação judicial, para minha filha ser chamada para fazer a terapia lá.
Ela se queixou também da falta de profissionais na unidade e falta de estrutura no espaço. "A fonoaudióloga saiu do Caps este ano, não chamaram outra para substituir e minha filha está sem fazer, sendo que ela é autista não verbal. A psicóloga que atende é maravilhosa, porém o Caps não tem recursos para trabalhar com as crianças, não tem os brinquedos adequados, os banheiros são sujos, e quando a criança está em crise e precisa de atendimento prioritário, por ser autista severa, a recepção se nega a dar. Precisamos de uma equipe mais capacitada para lidar com essas mães, que chegam frustradas, que nos tratem com mais educação e acolhimento. Inclusive, a psiquiatra que atendeu minha filha lá não nos atendeu bem", desabafou.
"A questão dos agendamentos era algo muito distante, levava em torno de seis a sete meses para fazer um retorno com a psicóloga. E já teve situação de marcar com fonoaudióloga e depois dessa espera toda, chegamos lá e a profissional não estava mais atendendo e também não tinha previsão para remarcar. Com a distância e a falta de ônibus diretos, muitas vezes tínhamos que dividir um carro de aplicativo com outras mães do bairro, por conta do horário, que era às 13h, e as crianças saiam da escola ao meio-dia; precisava engolir o almoço. O prédio é enorme e tem um salão imenso, porém não tem estrutura, nem lugar para sentar. Às vezes tínhamos que ficar em pé, pois estava cheio. Eles estão anunciando obras novas, mas o que tem não dão o suporte", relatou uma mãe, moradora do bairro Papagaio.
Outra moradora do Papagaio disse que perdeu o prazo de marcação para dezembro, e com isso o filho só será atendido agora em abril de 2026.
"A distância é realmente grande e não vale à pena. Eu perdi o período de marcação da consulta para dezembro, e remarcaram para abril de 2026. Já o psiquiatra, que atendeu no mês passado, em agosto, marcou agora para daqui a seis meses. A fonoaudióloga não tem mais. Um psicólogo é de seis em seis uma sessão, não existe isso em um tratamento. Já que o Caps é para as crianças, tinha que ter atendimento, como fonoaudiólogo para todas, conforme a demanda, a psicopedagoga lá dentro, o psiquiatra, psicólogo e o neuropsicólogo, mas não está tendo. A fono saiu, e só tem a psiquiatra e a psicóloga de seis em seis meses. Isso não é tratamento, é engodo", declarou.
O que diz a prefeitura
Questionado sobre a falta de profissionais no Caps Infantil do bairro Olhos D'água, o secretário de saúde Rodrigo Matos declarou que o município enfrenta o aumento da incidência de crianças com espectro autista, e que atualmente o Cer-Tea já oferece atendimentos de saúde como dentistas, psicólogo, assistente social e psiquiatra, que antes não tinha.
Sobre a demora nas marcações de consultas, o secretário destacou que faltam profissionais especializados na área de neuropediatria e psiquiatria infantil disponíveis para atendimento no SUS.
"São especialidades que têm escassez no país. Existe um problema complexo e nem tudo depende do município resolver, como a formação de especialistas em áreas estratégicas. A gente precisa de mais profissionais capacitados e treinados, para aumentar a nossa oferta diante de um cenário desafiador. Por outro lado, em menos de 1 ano a Secretaria buscou fazer um ambulatório de saúde mental mais robusto, colocar no Cer-Tea profissionais específicos, psiquiatras atendendo essa população, justamente para reduzir a demanda do Caps infantil."
Quanto à questão da infraestrutura, o secretário Rodrigo Matos destacou que recebeu as unidades da gestão anterior com diversos problemas e que a gestão atual tem feito altos investimentos para recuperar as estruturas. "Estamos com 15 obras em andamento de reformas de unidades de saúde. Mas, em menos de 2 anos, não há condição de requalificarmos a estrutura de saúde como um todo."
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