Reconhecimento facial e cortesias reduzem torcedores na Neo Química
Corinthians vê menos ingressos desviados, mas arena perde lotação após mudanças
O Corinthians vive um dilema que mistura avanço tecnológico e impacto comercial. Desde julho, quando implementou o reconhecimento facial obrigatório na Neo Química Arena e reduziu drasticamente a distribuição de cortesias, o clube eliminou boa parte do cambismo e ampliou o acesso ao programa Fiel Torcedor. No entanto, as três partidas mais recentes do Brasileirão em casa registraram públicos pagantes abaixo de 40 mil – patamar raro para Itaquera nesta década. A direção interina atribui a queda a ajustes no controle interno, enquanto aliados do presidente afastado, Augusto Melo, questionam a condução das mudanças.
Sob a ótica técnica, o reconhecimento facial alterou uma lógica enraizada: sócios compravam ingressos para pontuar no Fiel Torcedor, mesmo sem ir ao estádio, revendendo-os a terceiros. Com a nova barreira, a transferência de entradas foi inviabilizada e as vendas passaram a priorizar o torcedor que realmente vai ao jogo. No campo das cortesias, o corte foi expressivo – mais de mil a menos por partida, com destaque para o setor Oeste, antes beneficiado pela prática. O efeito imediato foi uma renda bruta mais alta nos clássicos, mas com cadeiras visivelmente vazias.
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O cenário projeta implicações importantes para o segundo semestre. A queda de público compromete a atmosfera em jogos decisivos e levanta dúvidas sobre o alcance da estratégia de fidelização. Embora o clube tenha conquistado 17 mil novos associados no Fiel Torcedor, ainda enfrenta resistência de torcedores menos familiarizados com a tecnologia e observa tentativas residuais de fraude digital. A continuidade dessa política exigirá ajustes, como ampliação do prazo de vendas e descontos mais agressivos para sócios, sob risco de a arena perder sua força como trunfo competitivo.
A leitura crítica aponta para um ponto sensível: segurança e transparência são vitais, mas não podem ser obtidas à custa do calor humano nas arquibancadas. A gestão interina venceu uma batalha contra o cambismo, mas precisa calibrar a transição para que a experiência do torcedor não se esfrie – afinal, estádio cheio não se mede apenas em boletos pagos, mas também em vozes ativas. Na terra onde "festa boa é com gente dentro", arquibancada vazia é gol contra.
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