Jardel admite luta contra vícios e expõe fragilidade fora dos gramados
Ex-artilheiro vive rotina de superação diária enquanto tenta reconstruir identidade pessoal
O futebol brasileiro sempre produziu artilheiros de exceção, mas poucos reuniram estatísticas tão arrebatadoras quanto Mário Jardel. Aos 51 anos, o ex-centroavante que brilhou em Porto, Grêmio e Sporting tornou-se personagem de um drama cotidiano, distante da euforia das arquibancadas. Morando em Fortaleza, ele enfrenta depressão e dependência química, apoiado em medicamentos, fé e uma rotina disciplinada. São números distintos agora: não mais os 415 gols em 565 jogos, mas a contagem silenciosa de dias afastado do álcool e da cocaína.
Tecnicamente, Jardel foi um especialista: cabeceador quase imbatível, atacante de posicionamento clínico, raramente desperdiçava oportunidades na pequena área. Fora de campo, a leitura dos espaços revelou-se menos precisa. O mesmo instinto que o levava a antecipar zagueiros falhou diante da pressão da fama e das tentações que cercam carreiras meteóricas. O contraste entre a inteligência tática no gramado e a vulnerabilidade na vida pessoal explicita uma lacuna estrutural: a ausência de acompanhamento psicológico e social mais sólido para atletas que transitam da glória ao anonimato em questão de meses.
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As consequências desse descompasso ainda reverberam. Jardel busca se reinventar como empresário e palestrante motivacional, mas a sombra da dependência o acompanha. O relato de "um leão por dia" é a confissão de uma batalha que não termina no apito final. A depressão, agravada por processos judiciais e a cassação política, coloca em perspectiva o impacto que a falta de suporte institucional tem sobre ex-jogadores. Se antes a meta era balançar redes, hoje o objetivo é mais modesto, porém vital: preservar a própria vida.
A leitura crítica desse percurso sugere que Jardel é tanto um caso individual quanto um sintoma coletivo. A cultura esportiva brasileira celebra o gol, mas negligencia o pós-carreira. O artilheiro que um dia ensinou Cristiano Ronaldo a cabecear agora simboliza um alerta: sem políticas de transição, a aposentadoria vira sentença de isolamento e risco. Jardel insiste em sobreviver, e esse esforço merece reconhecimento. Mas o país que tanto vibrou com seus gols deve se perguntar por que deixou de cuidar de quem, em campo, parecia invencível.
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