Descaso com a Copa América Feminina expõe fragilidade das seleções sul-americanas

EsportesDesatenção estrutural crônica

Descaso com a Copa América Feminina expõe fragilidade das seleções sul-americanas

Torcida ausente, estrutura precária e calendário vazio acentuam invisibilidade das atletas 

📷 Reprodução: X (Twitter) - RaulZambrano7

O vazio das arquibancadas, a ausência de cobertura ampla na mídia e a dificuldade logística enfrentada pelas delegações escancaram o abismo que separa o futebol feminino sul-americano do tratamento dado ao masculino. A Copa América Feminina 2025, realizada na altitude de Quito, entrou pela terceira rodada sem sinais de mobilização popular nem articulação institucional relevante. Com 10 seleções na disputa e apenas três vagas diretas para a Copa do Mundo de 2027, o torneio representa muito mais do que um título continental: é o passaporte mínimo para a sobrevivência esportiva de dezenas de atletas que enfrentam o desinteresse oficial como adversário constante.

Tecnicamente, a competição revela contrastes brutais. Enquanto o Brasil, mesmo com um elenco em renovação, mantém relativa superioridade física e tática, outras seleções patinam em fundamentos básicos. A Bolívia estreou com apenas 14 jogadoras disponíveis, e o Paraguai viajou em dois voos separados por falta de verba. Há sinais promissores na Colômbia, que mescla juventude e intensidade, mas o desenho tático das equipes ainda sofre com a escassez de calendários nacionais regulares. Sem ligas fortes, sem comissões técnicas estáveis e com preparação esporádica, o que se vê em campo é um esforço hercúleo que raramente se traduz em consistência coletiva.

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O impacto dessa negligência se projeta para além das quatro linhas. As chances de classificações históricas são diluídas pela falta de competitividade prévia. Com exceção do Brasil e, em menor grau, da Argentina, as demais seleções não disputam amistosos internacionais de peso. Isso afeta diretamente o ranking da FIFA, as convocações e os patrocínios. A Copa América, portanto, vira mais um espelho incômodo do que uma vitrine de talentos. Em ano de Olimpíadas, onde apenas as campeãs continentais garantem vaga, a ausência de um projeto claro de desenvolvimento regional soa quase como sabotagem institucional.

É preciso dizer com todas as letras: não se trata de desinteresse do público, mas de desmonte por omissão. A Conmebol organiza o torneio, mas pouco investe em difusão e estrutura. As federações nacionais, salvo raras exceções, tratam o futebol feminino como obrigação protocolar — quando não como estorvo. Não basta exaltar a garra das jogadoras: é preciso garantir-lhes condições mínimas de alto rendimento. Enquanto isso não ocorrer, seguiremos batendo na mesma tecla — e ouvindo o mesmo silêncio como resposta. Em bom baianês, fica o recado: sem base forte, não há frevo que levante esse jogo. 

 

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Terça, 29 Julho 2025

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